TESTANDO N’AREIA (3)

Red Bull mostra as garras (ou chifres): P1 no último dia

SÃO PAULO (até sexta) – Escrevo sem saber se Mick Schumacher, nas duas horas extras de pista que a Haas ganhou hoje, vai fazer algum milagre (leia a ATUALIZAÇÃO no fim deste texto; não foi milagre, mas quase). Mas considerando apenas o “tempo normal”, terminou há pouco a pré-temporada da F-1 com a sexta equipe diferente fechando o dia com o melhor tempo em seis sessões divididas entre Barcelona e Bahrein. Desta vez, a campeã mundial de Pilotos, a Red Bull de Max Verstappen: 1min31s720 foi o tempo que o holandês marcou no começo da noite barenita, enfiando um canudo de 0s695 na Ferrari de Charles Leclerc.

(Se vocês consultaram a atualização lá embaixo, já sabem que Mick tirou o segundo lugar de Charlinho, mas é aquela coisa… Andou sozinho, com temperatura mais baixa etc. etc. etc. e tal.)

Isso faz dos rubro-taurinos favoritos à vitória domingo que vem no deserto? Sim. Para mim, é quem chega mais forte na corrida. Max deu a impressão de que nem forçou muito para não assustar os adversários. Não é um favoritismo absoluto, porém. Porque no ano passado aconteceu algo parecido e no fim quem levou a corrida de abertura do Mundial foi Lewis Hamilton, numa Mercedes que não andou nada nos treinos. Um carro complicado que, incrivelmente, venceu três das quatro primeiras etapas da temporada.

Não se deve nunca subestimar a equipe que conquistou os últimos oito títulos de Construtores e sete de Pilotos desde 2014. Os alemães têm grande capacidade de reação. E têm um piloto como Hamilton. Foi ele, aliás, quem deu a declaração mais forte do dia hoje depois de entregar o carro a George Russell, responsável pelos trabalhos no final da tarde e início da noite no Bahrein: “Neste momento, acho que não estamos lutando por vitórias”, falou. “Mas o carro tem potencial para chegar lá. Não é em uma semana que vamos conseguir, mas pelo que me disseram ainda temos bastante velocidade para tirar dele”.

Quem disseram foram os homens fortes da Mercedes, que devem ter sugerido a Lewis que compre uma daquelas camisetas onde se lê “Keep calm and [preencha com sua frase favorita]” e descanse durante alguns dias. Há uma certa desconfiança no paddock, expressa principalmente pelos sempre dramáticos italianos da Ferrari, de que o time prateado está escondendo alguma coisa. E como não se pode andar com o carro camuflado, pintado de uniforme antigo do Bragantino, ou com emblema de outra marca no capô (a Vemag meteu um “Lamborghini” no Fissore quando testava o carro pelas estradas brasileiras em 1962), é de se imaginar que estamos falando aqui de motor.

Talvez — vejam bem, talvez — a Mercedes não tenha usado seu motor a pleno. Talvez tenha optado, o tempo todo, por mapas menos agressivos, ocultando alguns cavalos para despejá-los no carro só na semana que vem, quando começa o Mundial para valer. É um medo da concorrência que se justifica pelo passado recente. Mas não convém descartar, de qualquer maneira, a possibilidade de o time ainda não ter encontrado as soluções que precisa para fazer o magricela W13 andar forte — ainda que remota. Hamilton, na entrevista que concedeu depois que terminou a labuta, disse ter ficado com a impressão de que a Ferrari tem o carro mais rápido deste começo de ano. “Talvez a Red Bull, e depois talvez nós e a McLaren”, concluiu, fazendo sua lista de apostas.

É teste. É pré-temporada. Ninguém que não precisa mostra todos seus truques. Aguardemos, falta pouco para começar.

Vamos às notas coloridas? A elas, pois. Mas, antes, os tempos deste sábado, já com Schumaquinho em segundo:

Os tempos de hoje sem a prorrogação da Haas: Max na frente

FELIZÃO 1 – Um piloto em particular ficou muito satisfeito com o trabalho de hoje: Fernando Alonso. O espanhol conseguiu completar 122 voltas, duas a menos que Nicholas Latifi, da Williams, o que mais andou. E fechou o dia com um simpático terceiro tempo (quarto depois do tempo extra da Haas), ainda que quase 1s atrás de Verstappen.

FELIZÃO 2 – Ainda no “âmbito da Alpine”, como diriam aqueles procuradores azedos de Curitiba (aliás, por onde andam os canalhas?), quem recebeu uma boa notícia hoje foi o jovem Oscar Piastri, 20 anos, campeão da F-2 no ano passado e contratado como piloto de testes do time francês. A McLaren, que não sabe se terá Daniel Ricciardo recuperado da Covid para a corrida de domingo, pediu o australiano emprestado para ser seu reserva, também. E a Alpine liberou, deixando claro, porém, que Piastri segue sendo contratado do time rosa & azul. Mas, se precisar, pode ficar com ele por alguns dias, desde que pague transporte, hospedagem e alimentação.

TRISTINHOS – A McLaren, em seu site oficial, não apresenta ninguém como piloto reserva. Apenas lista dois nomes como responsáveis por desenvolvimento e trampo duro e chato no simulador: Will Stevens e Oliver Turvey, que são basicamente ninguém na fila do pão. Se Ricciardo não puder correr, uma possibilidade seria pedir Stoffel Vandoorne ou Nyck de Vries, a dupla da Mercedes na Fórmula E. Mas, pelo jeito, nenhum dos dois comove Zak Brown, o chefe do time papaia. Se Daniel não testar negativo até quinta, quem corre é Piastri. Que já deve estar fazendo banco, por via das dúvidas.

FELIZÃO 3 – Ainda no “âmbito da McLaren”, como diriam aqueles procuradores azedos de Curitiba (sumiram mesmo, né?), a equipe confirmou que o americano Colton Herta, 21, vai fazer uns testes com o carro do ano passado. A FIA criou neste ano um programa chamado TPC (Testing of Previous Cars), que permite às equipes o uso de modelos mais velhos para experimentar jovens pilotos. Herta se tornou em 2019 o mais jovem vencedor de corridas da Indy e atualmente conta, no currículo, com seis vitórias e sete poles na categoria. Hoje corre pela Andretti.

DIA FÁCIL – O chefe de operações da Haas, Ayao Komatsu, disse que a equipe pela manhã teve três “abandonos” em 36 voltas. “Depois de nove, tivemos de parar porque subiu a temperatura. Na 31ª, um vazamento de água. Na 36ª, um problema de alimentação de combustível”, descreveu, superanimado. O sempre polido Günther Steiner escutou aquilou e grunhiu: “Melhor hoje que domingo na corrida”. E virou as costas e foi embora.

FRASE DO DIA – De Max Verstappen, sobre o carro esquelético da Mercedes: “Não sei se é legal ou ilegal, mas é feio pra cacete”.

Às 19h apareçam lá no meu canal youtúbico para a gente analisar a pré-temporada.

ATUALIZAÇÃO – Só para registrar, nas duas horas extras de pista que a Haas teve hoje, a exemplo do que aconteceu ontem com Kevin Magnussen, o carro andou bem. Mick Schumacher fez uma volta 0s521 mais lenta que a de Verstappen, o que deixou o alemãozinho com o segundo melhor tempo do sábado. Parabéns para ele. Talvez a Haas sugira disputar os GPs, a partir de agora, depois que todo mundo terminar de correr.

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DESAFIO DO DIA

Vamos lá, hoje está fácil. Mas precisa dizer tudo: quem, quando, como, onde etc.

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TESTANDO N’AREIA (2)

Magnussen, P1: assim se volta

SÃO PAULO (na cara) – É óbvio que o resultado vai servir para pouco mais que tirar um print, mandar na loja de molduras e fazer um quadrinho. Mas é isso que a história registrará nesta sexta-feira, 11 de março, nove dias antes da corrida que abre o Mundial de F-1: o melhor tempo no Bahrein, no penúltimo dia da pré-temporada de 2022, foi de Kevin Magnussen, da Haas.

O dinamarquês, que na semana passada recebeu um telefonema de Gene Haas e rompeu seus contratos com a Chip Ganassi, nos EUA, e com a Peugeot, na França, voltou à F-1 com estilo. Ele assumiu a vaga aberta pelo proscrito Nikita Mazepin, vítima das sanções políticas, econômicas, sociais, gastronômicas, culturais e esportivas impostas à Rússia desde o início da guerra com a Ucrânia, 16 dias atrás.

A Haas ganhou uma hora extra nos treinos de hoje em relação às outras equipes, porque chegou atrasada para o início dos testes — problemas técnicos com o avião que trazia seu equipamento. K-Mag aproveitou que estava sozinho na pista, colocou os pneus C4, mais macios, e fez sua melhor volta em 1min33s207. Até ali, quem iria fechar o dia em primeiro depois de oito horas de atividades na era Carlos Sainz, da Ferrari, com 1min33s532. Ano passado, Mazepin fez 1min33s273 na classificação para o GP do Bahrein.

Os tempos de hoje, com K-Mag em primeiro: treinos acabam amanhã

O tempo de Magnussen pode não representar muita coisa, mas levanta o moral do piloto e da equipe. Muita gente torceu o nariz para a escolha da Haas, especialmente nas hostes patrióticas brasileiras nas redes sociais — que “exigiam” Pietro Fittipaldi no lugar de Mazepin. Kevin sentou no carro, mais de um ano depois de pilotar um F-1 pela última vez, e mandou o sapato sem muita conversinha. Imaginem como estariam as mesmas redes hoje se o primeiro-neto colocasse um carro da Haas no topo de uma folha de tempos…

Muito vento e pista bem suja de areia foram as marcas do dia no deserto do Sakhir hoje, que teve 15 pilotos na pista. Os que andaram de dia, com sol e calor, foram francamente prejudicados. A pista ficou muito mais rápida quando anoiteceu.

E o que mais de importante aconteceu? Às nossas notinhas policromáticas, elas são um sucesso neste blog secreto!

DOENTE – A McLaren continua com problemas de freios e de saúde. Daniel Ricciardo, doente, não treinou de novo e também está fora amanhã. A equipe não dizia o que ele tinha, apenas que “estava se sentindo mal”. Mas o australiano fez teste para Covid hoje e deu positivo. Lando Norris segue trabalhando sozinho. Não está certo ainda se Ricciardo vai correr no dia 20. Tudo depende de como vai se recuperar e dos protocolos de isolamento, quarentena e testagem adotados pela F-1. Daniel estava com os colegas nas fotos contra a guerra, anteontem. Junto de todos, sem máscara. Claro que está todo mundo vacinado. Mas a pandemia não acabou.

BAIXA A BOLA – Depois de acusar a Mercedes de fazer um carro ilegal, com asas disfarçadas de suporte de espelho e “sidepods” indecentemente magros, Christian Horner, chefe da Red Bull, voltou atrás e disse que a equipe rival não está fazendo nada que agrida as regras e elogiou a criatividade dos engenheiros da F-1. “Se vai dar certo, é algo que veremos depois”, disse.

Hamilton com a esbelta W13: nada de ilegal

FERRARI NA FRENTE – Até agora, em dois dias de testes no Bahrein, a Ferrari lidera o ranking de voltas completadas, com 230. Depois vêm Red Bull (224), AlphaTauri (223), Mercedes (216), Aston Martin (205), Alfa Romeo (193), Alpine (177), Haas (130), Williams (116) e McLaren (110).

MENINO DE ROSA – A Alpine trocou a cor de seu carro de ontem para hoje e andou de rosa com Ocon. Como se sabe, nas duas primeiras corridas do ano o time francês, azul por natureza, vai com a cor de sua nova patrocinadora principal, a austríaca BWT — ex-parceira de Force India, Racing Point e Aston Martin (três nomes para a mesma equipe nos últimos anos). Depois, volta a ser azul com toques de rosa, para desespero da ministra que viu Jesus na goiabeira.

Ocon com a Alpine rosa: azul volta na terceira etapa

SEM DOMÍNIO – Uma curiosidade na pré-temporada até agora: foram cinco dias de testes (três em Barcelona e dois no Bahrein) e cinco equipes diferentes ficaram em primeiro lugar. Na Espanha, deu McLaren no primeiro dia, Ferrari no segundo e Mercedes no terceiro. Ontem foi a vez da AlphaTauri. Hoje, da Haas. A Red Bull ainda não cravou um P1.

PREOCUPADO – A frase de hoje é de Hamilton e não tem nada de fluxo de ar. Quando soube que Sainz disse que a Mercedes estava escondendo o jogo, o inglês respondeu: “A gente teria se ser muito bom pra fingir tão bem que nosso carro sai de traseira do jeito que está saindo… Se a corrida fosse hoje, a Ferrari faria uma dobradinha”.

E é isso, por enquanto. Às 19h estaremos ao vivo para mais um “Fórmula Gomes”, analisando os treinos no nosso canalzinho no YouTube.

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WE ♥ RACE CARS

Brands Hatch. Mais não digo.

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PAIS & FILHOS

O Alexandre Neves mandou, não sei quem fez a montagem. Mas temos aí três pilotos em 1997 que, 25 anos depois, veem seus filhos disputando o mesmo campeonato.

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ONE COMMENT

Nada se cria… Lambo Modena 291, 1991, cuja história está aqui, contada brilhantemente pelo Rodrigo Mattar.

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TESTANDO N’AREIA (1)

SÃO PAULO (cozinhando aqui também) – A primeira coisa que RB18 disse para AT03, assim que viu W13 na garagem ao lado, foi: “Você viu como tá raquítica? Deve estar faltando comida lá, não é possível perder tanto peso em tão pouco tempo”. AT03 respondeu: “Isso aí é lipo”. MCL36, um pouco mais adiante, chamou F1-75 num canto. “Fez bariátrica, tá na cara”, falou. “Eu bem que tô precisando…”, suspirou a outra. “Vivo brigando com a balança.” Numa rodinha à parte, outras três partiram para a fofoca explícita. “Só tem osso. Povo gosta de carne, de curvas. Não vai pegar ninguém”, disse a A522, venenosa. “É a moda, cinturinha fina. Faz sucesso no Tinder”, discordou FW44. C42 foi mais maldosa: “Tá saindo com o personal, certeza”. VF-22 se juntou ao grupo para tentar se enturmar e mandou a tese: “Dieta de internet. Dá resultado rápido, mas depois volta tudo de novo”.

AMR22 percebeu que W13 estava meio isolada e se aproximou. “Menina, como você emagreceu! Olha, isso é coisa de quem tá namorando, hein? Tá malhando? E essa sobrancelha, fez onde?” W13 deu uma paradinha, se olhou no espelho, voltou-se para a amiga e perguntou: “Gostou mesmo ou tá falando só pra me agradar? Não ficou meio esquisito, não?”. “Nada, tá linda!”, elogiou AMR22. “No começo as pessoas estranham, mas depois todo mundo vai querer fazer igual. Depois me passa o telefone do teu projetista”, falou, dando uma piscadinha e pedindo licença porque estava atrasada. Mas saiu falando baixinho, para ninguém ouvir: “Me dá o telefone pra eu não ligar nunca pra ele, magricela horrorosa…”.

O carro que a Mercedes levou Bahrein para a abertura da segunda sessão da pré-temporada na F-1 é completamente diferente daquele que foi usado há alguns dias nos treinos de Barcelona. Os “sidepods”, conhecidos também como “laterais”, foram reduzidos a quase nada. “Zeropods”, trocadilhou o Grande Prêmio. A equipe partiu para uma solução bem… radical, para dizer o mínimo. Imagino a conversa no departamento de projetos do time, na Inglaterra. “O que é que está atrapalhando o fluxo de ar?”, perguntou Toto Wolff. O engenheiro-chefe ajeitou os óculos, empertigou-se e se preparou para desfiar toda sua erudição aerodinâmica. “Ah, os ‘sidepods’ são o ponto nevrálgico”, começou. “O senhor sabe, Herr Wolff, com este novo regulamento e a perda de relevância das asas, sem os ‘barge boards’ e dependendo da eficiência dos tubos venturi que reduzem a pressão sob o assoalho e produzem o efeito-solo, é muito difícil encontrar um compromisso entre…”, mas antes que o sujeito — insuportável, diga-se, embora competente — concluísse o raciocínio incompreensível, Toto o interrompeu e decidiu: “Então arranca tudo. Tira essa merda toda, faz o carro sem ‘sidepod’ nenhum e acaba logo com essa história!”.

A magreza do W13 no deserto de Sakhir não despertou comentários invejosos e/ou desdenhosos apenas de suas colegas sobre rodas. Christian Horner, chefe da Red Bull, já saiu atirando (depois negou que tenha falado o que falou, mas ele falou). Disse que o automóvel rival “desrespeita o espírito das regras” e que a base para os espelhos retrovisores que a Mercedes bolou na nova configuração “são asas, e não suportes”. “E ainda têm defletores verticais”, concluiu. Toto rebateu em tons definitivos. “O cara fala isso meia hora depois de ver o carro pela primeira vez? Não tem nada ilegal. Não nos encham o saco!”.

(A última frase eu imagino que ele tenha dito, mas ele não disse.)

Russell na noite barenita: chocou, mas não impressionou

Se é verdade que o carro esquelético chocou a concorrência, com as laterais magérrimas e o assoalho praticamente exposto, tão delgado que nem tinha onde espetar um espelhinho, não é menos verdade que ao fim do primeiro dia de treinos ninguém ficou muito impressionado com os resultados na folha de tempos.

Hamilton andou com o carro de manhã e Russell, de tarde. O inglês ficou com o 11º tempo da quinta-feira entre os 15 pilotos que andaram. Russell foi o nono. O mais rápido foi Pierre Gasly, da AlphaTauri, com 1min33s902 cronometrados em sua melhor volta, usando os pneus mais macios da Pirelli. Carlos Sainz, de médios, e Charles Leclerc, idem, colocaram a Ferrari em segundo e terceiro.

Sempre vale recordar os tempos de referência para entender quanto os novos carros estão mais lentos que os modelos aposentados ao final da última temporada. No ano passado, Verstappen fez a pole no Bahrein em 1min28s997. A melhor volta, em corrida, foi de Bottas: 1min32s090. Bom lembrar, também, que o objetivo do novo regulamento não foi deixar os carros mais lentos, e sim reduzir custos de construção e, sobretudo, permitir que eles andem mais próximos uns dos outros sem perda de eficiência aerodinâmica.

Os tempos de hoje: Gasly mais rápido com pneus macios

Todos sabemos que cada equipe estabelece seu próprio programa de testes em função das necessidades, e que por isso nem sempre os resultados indicam exatamente o que vai acontecer no campeonato. Na melhor das hipóteses, dão algumas pistas. A Ferrari, que começou bem em Barcelona, parece seguir a passos firmes sem se preocupar em emocionar sua apaixonada torcida. Red Bull e Mercedes, a exemplo do que aconteceu em Barcelona, não comoveram ninguém até agora. A AlphaTauri tem recebido elogios. O resto está mais ou menos onde se esperava que estariam.

Mas vamos às nossas notinhas policromáticas que a gente ganha mais…

VOO ATRASOU – Apenas para registrar e não cometer injustiças, ontem Hamilton não tirou foto com os outros pilotos pedindo o fim da guerra na Ucrânia porque seu avião ainda não tinha chegado a Manama. Mencionei outros dois que ficaram fora do retrato, Fittipaldi e Kubica. O primeiro, provavelmente, estava atrapalhado fazendo o banco de seu carro. Já o polonês nem está escalado pela Alfa Romeo para o testes, então przepraszam za to, Robert.

PELA PAZ – Ainda no “contexto da guerra”, como diriam os comentaristas, Vettel está treinando no Bahrein com uma mensagem pacifista em seu capacete, que ganhou faixas em azul e amarelo — as cores da Ucrânia.

Capacete de Vettel: pela paz

ENGORDA – O regulamento da F-1 aumentou de 752 kg para 795 kg o peso mínimo para o conjunto carro-piloto neste ano, uma engorda que se explica principalmente por causa das rodas maiores de 18 polegadas e do reforço em algumas estruturas. Mas quase nenhuma equipe conseguiu fazer carros dentro do peso — estão todos mais pesados, com exceção de McLaren e Alfa Romeo, que chegaram perto. Por acordo comum, esse peso mínimo será ampliado em 3 kg na próxima reunião da Comissão de F-1.

MAIS TEMPO – A Haas teve dificuldades com a logística e chegou ao Bahrein 36 horas depois que todas as outras equipes — o avião teve problemas técnicos na Turquia. Por isso, perdeu o período da manhã hoje e não treinou. Só andou de tarde, com Pietro Fittipaldi. O time pediu autorização para compensar no domingo, mas McLaren, Alpine e Alfa Romeo votaram contra. O máximo que as rivais aceitam é dar duas horas a mais para a Haas testar amanhã e sábado à noite. A equipe ainda não decidiu se vai fazer isso. Günther Steiner, o chefe, acha que é trabalho demais para seus mecânicos esticar jornadas que já serão longas nos próximos dois dias.

MISSÃO CUMPRIDA – O neto de Emerson completou 47 voltas e ficou com o último tempo do dia, registrado com o pneu protótipo da Pirelli, um composto que ainda não se sabe se será usado nesta temporada. Seu trabalho pela Haas, neste ano, terminou — dificilmente participará de novos testes, que são muito limitados e precisam ser aproveitados pelos titulares. Amanhã, Schumaquinho treina de manhã e o repatriado Magnussen, de tarde.

PORPOISING – Você vai ouvir muito esta palavra ainda neste ano. Vem de “porpoise”, boto, sim, o mamífero aquático, também conhecido como golfinho. Já viu um golfinho nadando? Pois o que está acontecendo com os carros novos em altas velocidades é parecido com o movimento dos golfinhos nadando — eles têm a pele muito elástica e deformam o corpo como se ondulassem, para ganhar impulsão. Na F-1, como os carros estão andando muito próximos do asfalto para acelerar a passagem do ar sob o assoalho, às vezes falta… ar! E o carro bate no chão, porque perde pressão aerodinâmica. Quando bate, levanta. E o ar volta a passar. E aí abaixa, bate de novo e a pressão some. E isso acontece em frações de segundo numa frequência muito alta, o que faz com que os pilotos quiquem na pista, como se estivessem em alta velocidade numa estrada de terra cheia daquilo que chamamos de “costelas de vaca”.

Gasly depois do treino de hoje: pospoising

PERIGOSO – Em Barcelona ficou claro que os engenheiros terão de encontrar soluções para isso. Imagens de Gasly hoje, tomadas pela câmera que fica de frente para seu capacete, foram assustadoras. Não dá para guiar daquele jeito. A solução mas fácil é erguer um pouco o carro, para evitar que o assoalho bata no chão. Mas isso vai reduzir o efeito-solo. Até agora a FIA não falou nada. Mas é bom começar a se preocupar.

“NÓIS CAPOTA…” – Das grandes, a McLaren foi quem teve mais problemas hoje. Deu apenas 50 voltas com Norris, que enfrentou dificuldades com os sistema de refrigeração dos freios. Segundo o piloto, talvez a equipe leve algum tempo para resolver, o que preocupa. Daniel Ricciardo deve treinar amanhã. Mas ele passou mal e ainda não está confirmado.

Norris: problemas nos freios

SEM F-1 – A Liberty confirmou hoje que rompeu o contrato de transmissão do Mundial que tinha com a Match TV, da Rússia, e avisou que o sinal da F1 TV também não estará mais disponível no país nas plataformas digitais.

SEM RÚSSIA – É mais uma retaliação da categoria aos russos, que se junta ao cancelamento do GP em Sóchi e, numa esfera mais global, à proibição de eventos chancelados pela FIA na Rússia e em Belarus, além do banimento dos hinos e bandeiras desses países em competições internacionais. Pilotos russos e bielorrussos, para seguirem competindo, têm de assinar um documento condenando a invasão da Ucrânia pelas forças de Vladimir Putin.

FRASES – Para finalizar, as frases mais repetidas do dia que foram ditas por todos os pilotos e integrantes das equipes usando as mesmas palavras: “Os tempos não são representativos porque a gente não sabe o que os outros estão fazendo”; “Nós estamos focados apenas no nosso trabalho e no nosso programa, não estamos preocupados com os outros”; “Foi um dia muito produtivo, aprendemos muito e nestes testes o mais importante é entender como o carro funciona”. A última é dos comentaristas de TV, de todos os países e em todas as línguas: “O que a [equipe X] fez com esse desenho foi otimizar os fluxos de ar”.

Até mais tarde, às 19h no “Fórmula Gomes”, com análise ao vivo do dia #1 no Bahrein.

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FOTOS DO DIA

Desde 1996 fornecendo o safety-car e medical-car para a F-1, agora dividindo a tarefa com a Aston Martin, a Mercedes apresentou os modelos que serão usados neste ano na função. O SC será da linha Mercedes-AMG GT Black Series, com 730 HP de potência e velocidade máxima de 320 km/h. O carro médico será um Mercedes AMG-GT 63 S 4Matic+ (ufa!), com 639 HP e lugar para três médicos e equipamentos de intervenção rápida. Vermelhos.

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É MAGNUSSEN

SÃO PAULO (surpresa!) – Nem Pietro, nem Giovinazzi. Muito menos Hülkenberg, o experiente, ou Piastri, o promissor. A Haas acaba de anunciar a volta de Kevin Magnussen à equipe para o lugar de Nikita Mazepin. O dinamarquês de 29 anos foi o escolhido por Gene Haas para assumir o cockpit vago após o rompimento do time com a Uralkali, patrocinadora russa que pertence ao pai do piloto. Dmitry Mazepin, aliás, acabou de ser colocado numa lista de 14 milionários russos que sofrerão sanções da União Europeia. De acordo com a UE, ele teria se encontrado com Vladimir Puti em 24 de fevereiro, exatamente no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia.

Magnussen defendeu a Haas de 2017 a 2020. No ano passado, migrou para os EUA onde disputou diversas provas da IMSA, chegou a correr na Indy e também se divertiu com carros do WEC. Tinha virado uma espécie de saltimbanco das pistas, mas estava certo com a Peugeot para 2022 no Mundial de Endurance e tinha um contrato com a Chip Ganassi.

Na F-1, o filho de Jan Magnussen — prodígio que não vingou nos anos 90 –, tem no currículo 119 GPs disputados por McLaren (2014), Renault (2016) e Haas. Subiu ao pódio uma vez, em 2014, com um segundo lugar surpreendente na Austrália. O nono lugar no Mundial em 2018 foi sua melhor classificação até agora.

É uma escolha que faz sentido, embora seu nome não estivesse em lista nenhuma dos candidatos à vaga de Mazepin. Tem experiência, conhece a equipe por dentro, não vai ter dificuldade nenhuma de adaptação. Sua saída no final de 2020 não foi traumática. A equipe estava na pindaíba total e o dinheiro injetado pelo clã Mazepin falou mais alto no conflito entre competir e sobreviver. K-Mag, como é chamado, aparentemente compreendeu. Saiu chateado, mas não disparou nenhuma saraivada de impropérios contra a equipe.

Com a decisão anunciada há pouco, encerram-se as discussões sobre a possibilidade de Pietro Fittipaldi se tornar titular da Haas. O brasileiro segue na condição de piloto de testes e está escalado para abrir os treinos do time amanhã no Bahrein.

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