INTERLAGOS, INTERLAGOS

SÃO PAULO (solzinho bão) – E é o seguinte. A SPTuris, que administra Interlagos, e a Prefeitura, dona do autódromo, não vão fazer nada lá este ano. O que é bom, gasta-se menos. Mas é ruim porque faz um ano que morreu Gustavo Sondermann e nada foi feito de sério no Café, apesar das promessas da época.

Eu, no fundo, nunca achei necessária área de escape ali para a F-1. Para as categorias de Turismo, a chicane interna é ruim. Várias ideias foram colocadas na mesa, nenhuma foi adiante, mas vale a crítica aos administradores e à CBA pelo barulho feito na época do acidente, que acabou não resultando em nada. Se é para não fazer nada, que nada se prometa. Simples assim.

De qualquer forma, apresentaram um plano diretor de dez anos cuja obra maior será a construção de novos boxes na Reta Oposta. Só para a F-1, com paddock maior e tudo mais. Pelo jeito, o novo paddock vai ocupar toda aquela área interna à Curva do Sol. A saída de box seria na subida do Laranjinha. Parece que é para 2013. No Café, talvez uma chicane para o lado externo. Os boxes antigos poderão perder os andares superiores, para que a turma das arquibancadas da atual reta dos boxes possa ter uma visibilidade melhor. No antigo Retão, querem fazer uma pista de arrancada. Arquibancadas fixas onde hoje é o setor G, que passarão a ter visão dos novos boxes. Talvez elas sejam giratórias, para que possam ser usadas nas provas de arrancada.

Claro que nada se disse sobre ressuscitar o traçado antigo, ou parte dele. Aliás, isso nunca foi sequer cogitado.

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ENCHE O TANQUE

SÃO PAULO (aí sim) – O Felipe Marra, de Londres, mandou a notícia que está no site da BBC. Dois postos de gasolina tombados por seu valor arquitetônico. Um deles é essa gracinha da Esso na A6 em Red Hill, Leicestershire.

Preservar é isso. Já no Rio parece que condenaram de vez os postos da Lagoa e os da avenida Atlântica. Alguém pode nos atualizar? Estive no Rio no fim de semana e eles ainda estão funcionando — embora nos da Lagoa a arquitetura já tenha ido para o saco faz tempo.

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GILLES (4)

SÃO PAULO (30 anos é redondo, ok?) – Gilles Villeneuve não foi grande coisa como piloto, quando se olha apenas para os números. Fez duas poles e ganhou seis corridas em 67 GPs. Isso aí o Button fez na primeira metade de 2009. Mas era “nosso doido favorito”, como bem definiu o Ivan Capelli em sua coluna de hoje no Grande Prêmio. Bem doido. Por isso acabou como acabou, num acidente besta num treino em Zolder — o texto é de Fagner Morais, nosso estreante no site.

Gilles não virou ídolo por ter morrido num acidente. Virou ídolo porque era um show à parte em qualquer corrida, e por isso as pessoas gostavam dele. Gostamos de malucos, ainda que eles sejam irresponsáveis às vezes. Mas, principalmente, porque malucos não se preocupam com resultados, números, estatísticas, objetivos, foco. Apenas vivem.

Um maluco como Villeneuve, naquela F-1 dos anos 70 e 80, seguia seus instintos e tinha como maior ambição ser amado. Amado pela torcida da Ferrari, amado pelo comendador, amado pelos amantes do automobilismo. Isso foi. Tanto que seus erros todos eram perdoados como perdoamos uma criança que comete alguma travessura. E ele errou muito.

Enzo o adorava de paixão. Foi sua aposta para o lugar de Lauda, foi seu menino. Talvez nenhuma morte tenha sido tão sentida pelo fundador da Ferrari quanto a de Gilles, e daquele jeito, carro de um lado, corpo do outro. O acidente foi, realmente, horroroso.

Gilles deixou de herança Jacques, que na F-1 fez muito mais, mas jamais conquistou o coração dos torcedores como seu pai. Não se deve culpá-lo, no entanto. Quem, hoje, conquista sinceramente o coração de alguém a distância, apenas por guiar um carro de corrida? Quem desperta paixões verdadeiras mesmo sendo apenas um maluco beleza, um perdedor para os padrões atuais?

São poucos, e são poucos e poucas os que se apaixonam verdadeiramente pelos birutas do mundo, e por isso é fácil afirmar que outro Gilles não vai aparecer de novo. Ele seria crucificado pelos idiotas da objetividade antes de terminar de soletrar seu nome.

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GILLES (3)

SÃO PAULO (doidão) – Outro vídeo obrigatório para a petizada conhecer Villeneuve é este do GP do Canadá de 1981. Depois de fazer miséria na chuva, uma chuva que, hoje, faria com que a prova fosse cancelada antes mesmo de os carros saírem dos boxes, ele tocou em De Angelis, se bem me lembro, e a asa entortou. Entortou bem. Tapou a visão de Gilles, que não quis nem saber. Até que ela se soltou. Terminou em terceiro. Legal nesse vídeo, cuja qualidade das imagens não é lá grande coisa, é a narração da dupla Luciano do Valle e Reginaldo Leme.

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GILLES (2)

SÃO PAULO (tô com fome) – Neste dia de homenagens a Gilles Villeneuve, é obrigatório, inevitável, pingar o vídeo do GP da França de 1979, em Dijon-Prenois. As últimas três voltas daquela corrida foram eletrizantes, o duelo roda a roda com Arnoux pelo segundo lugar — a vitória foi de Jabouille, a primeira de um motor turbo na F-1. Há milhares de versões no YouTube, mas gosto particularmente dessa, com o Murray Walker.

Daqui a pouco, mais de Gilles.

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GILLES (1)

SÃO PAULO (adelante) – Hoje, todo mundo já sabe, faz 30 anos da morte de Gilles Villeneuve, num treino em Zolder. Vamos falar dele em tópicos, e começamos com a bela homenagem que a Ferrari fez hoje em Fiorano, dando o carro de 1979 a Jacques, o filho, para umas voltas. Com esse carro, a 312 T4, Gilles ganhou três corridas e Jody Scheckter conquistou o título daquela temporada.

Não consegui “incorporar” o vídeo, então vejam por aqui.

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PIQUET, 20

SÃO PAULO (sumiram todos?) – Foi num 7 de maio, em 1992, que Nelson Piquet sofreu o mais pavoroso acidente de sua vida, num treino em Indianápolis. Tricampeão do mundo, Nelson não conseguiu equipe para seguir na F-1 ao final de 1991, quando a Benetton optou por não renovar seu contrato. Ele também não se esforçou muito. Briatore apaixonara-se por Schumacher, com razão, e Piquet percebeu que seu tempo ali tinha terminado.

Mas ele resolveu, a partir daí, realizar algumas vontades pessoais. Não vou dizer “sonhos” porque Piquet não é muito chegado a essas coisas melosas. Estava a fim de correr em Indianápolis e Le Mans antes de parar de vez. E foi para os EUA. Assinou um contratinho com a Menard aconselhado por Eddie Cheever, seu brother. Deram uma Lola-Buick na sua mão e lá foi Nelsão andar no oval. Até estampar o muro de frente num treino a 340 km/h.

O muro moeu os pés de Piquet. Ele quase ficou aleijado, quase morreu, quase tudo. Foi um drama desgraçado, mas jamais tratado com tom de tragédia nacional no Brasil, ao menos como seria se o personagem fosse outro. Não, não preciso fazer rodeios. Estou falando de como seria a cobertura da imprensa e a comoção popular se o acidentado fosse Senna e não ele. E por que essa comparação? Porque eram, os dois, os maiores nomes do esporte brasileiro em 1991, no más. Dois tricampeões, vitoriosos, excepcionais pilotos. Só que um era o queridinho da mídia. O outro cagava para a mídia.

Piquet deu sua primeira entrevista no hospital ao Reginaldo Leme, a quem chamou para falar. Não era para o “Fantástico” ou para o Faustão. Era para o Regi, a quem ele conhecia havia décadas, um amigo, um cara da mesma época, da mesma geração. Não foi uma matéria em tom choroso, pelo que me lembro. Feia, até, no visual — um quarto de hospital em Indianápolis sem grandes luxos, fundo pastel, a parede do quarto, e nada de uma produção caprichada com luzes indiretas, trilha musical e vídeos de apoio dos amigos com gente vertendo lágrimas de jacaré.

Piquet arrebentou os pés numa porrada monumental e foi sobre isso que falou. E um ano depois, de muletas, estava lá em Indianápolis de novo para realizar o sonho. Ou: para matar uma vontade pessoal. Nada de sonhos.

Cobri essas duas corridas, a de 1992 e a de 1993. No acidente, no entanto, não estava nos EUA ainda. Foi numa daquelas sessões de treinos livres que só têm cobertura da imprensa local, início dos trabalhos para as 500. Em 1993, cheguei a Indianápolis uma semana antes da prova e todos os dias ia ao autódromo para fazer minhas matérias. Quando encontrei o Nelson pela primeira vez foi muito legal, numa mesinha com guarda-sol num gramado, ao lado do motorhome da Menard. Estávamos em poucos jornalistas, três ou quatro, no máximo. Sentamos para falar merda, como sempre, porque com Piquet era difícil fazer entrevista, ainda mais com ele quarentão, cagando mais ainda para a mídia. Então a gente sentava e ficava falando merda.

A recuperação foi dolorosa e difícil, sofrida, uma batalha dos diabos, não é qualquer um que faria o que ele fez. Mas Piquet nem tocava no assunto, não transformava nada em uma epopeia, era prático e objetivo. Corro de carro, é perigoso, bati, me arrebentei, posso optar por ser um velho amargo que reclama da vida, ou por me recuperar e tocar o barco. Não arrotava nenhum discurso pautado pela superação, pela força de vontade, pela perseguição de um sonho, pela perseverança, pelo desejo de levar as cores do Brasil ao mundo e mostrar que não desistimos nunca.

Muito pelo contrário. O que poderia ter sido uma longa matéria sobre tudo isso, a superação, a força de vontade e o caralho a quatro, virou um festival de bizarrices e piadas sobre si próprio. Foi nesse dia que ele contou como fazia para comprar tênis e sapatos, por exemplo. Como um pé ficou maior que o outro, ele disse que pedia na loja vários pares iguais de números diferentes, via qual cabia em qual pé, misturava tudo, colocava os dois que serviam numa caixa e levava embora. A loja descobriria dias depois que tinha vendido um pé 39 e outro 42, e ele se mijava de rir contando essas coisas. Porra, os caras só se fodem quando vão vender sapato pra mim!

Aí havia uma miniatura do carrinho de 1992, esse aí da foto, em cima da mesa, e ele e me deu. Nem é o Piquet no cockpit, o capacete é do Al Unser, mas não tinham feito a miniatura com o capacete certo. Ou, se tinham, ele não tinha nem visto, não era algo com que se importava. Nem eu, claro, aceitei feliz da vida o presente e levei para casa. O carro de 1993 já era diferente, vermelhão, bonito, patrocínio da Arisco.

No dia da corrida, fui para o grid e fiquei lá do lado do carro do Nelson esperando ele chegar para a largada, para ver se dizia alguma coisa, e ele foi chegando sozinho, de muletas, sem ninguém para ajudá-lo. Quando se aproximou e me viu disse alguma bobagem qualquer, pediu para que eu segurasse as muletas para entrar no caro, tirou o boné que vestia e jogou na minha mão. Fica com isso aí, baixinho, e achei demais, óbvio, coloquei o boné, os mecânicos chegaram, desejei boa sorte, voltei para a minúscula sala de imprensa e lá deixei o boné junto com minhas coisas.

Piquet abandonou no início e roubaram meu boné. Fiquei emputecido e fui até a garagem da Menard, corrida rolando lá fora, e quando cheguei o Nelson estava todo feliz, tinha conseguido largar, deu algumas voltas, matou a vontade, fiz umas perguntinhas, ele respondeu, e no fim, meio envergonhado, contei que tinham roubado o boné. Ele me xingou de burro, retardado, débil mental, tirou o que estava usando e me deu de novo.

Guardo o carrinho e o boné com carinho, foi uma cobertura bacana, Piquet foi legal comigo, e assim foi.

Hoje faz 20 anos daquele acidente e pouca gente lembrou, exceção feita a sites especializados como o Grande Prêmio (o material está aqui). Não recebi nenhum e-mail me cobrando para escrever sobre o assunto, como na semana passada, nos 18 anos da morte de Ayrton — aliás, só escrevo hoje sobre o acidente porque é número redondo, 20 anos e tal.

OK, ele não morreu no acidente, mas essa indiferença à efeméride nos diz muito sobre a relação fã-ídolo no Brasil.

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N’OVAL

SÃO PAULO (mês longo) – Aí está a estreia de Barrichello num circuito oval. Bateu nos 320 km/h. O velocímetro, não o piloto. As impressões de Rubens estão aqui. O teste aconteceu no Texas e a foto foi postada pelo Tony Kanaan em seu twitter.

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QUADRA

SÃO PAULO (bico) –  Quatro DKWs nas quatro primeiras posições das 6 Horas de Spa ontem. Foi muito tranquilo. Na estreia do R18 Ultra (é o nome que usamos para esses carros), o trio formado por Romain Dumas, Loic Duval e Marc Gené ficou em primeiro depois de 160 voltas. O outro Ultra ficou em terceiro. Os dois R18 e-tron quattro ficaram em segundo e quarto.

Vai dar DKW de novo nas 24 Horas de Le Mans em junho. Ou alguém acha que a fábrica de Corolla pode ameaçar?

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LEE, O PRIMEIRO

SÃO PAULO (que dê tudo certo) – É longo, mas alguém aí está com pressa? O vídeo acima é um documentário sobre a história de Roberto Lee, o primeiro grande colecionador de carros antigos do Brasil. Como se sabe, no ano passado o acervo de seu museu em Caçapava foi repassado à prefeitura. Agora está em curso um trabalho dificílimo de recuperar o que sobrou e, tomara, transformar a cidade num polo de antigomobilismo. Entre os carros, sobreviveu um Tucker cuja história vem sendo contada pela revista “Classic Show” em capítulos e pode até virar livro. Espero que vire.

Quem mandou o documentário para nosotros foi o Mestre Mahar. A história de Lee é muito legal. É o herói dos que gostam de carros antigos e lutam por sua preservação.

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