VALENTINAS (1)

SÃO PAULO (voltar também é bom) – Buenos dias, macacada. Apesar de Cumbica, deu tempo de desembarcar e ver a classificação de Valência. Back to ordinary life.

Aliás, Cumbica é uma coisa, não? Todo mundo anda falando mal dos aeroportos brasileiros, junto-me a eles. Não de todos, porque todos não conheço. Mas essa catacumba paulista, tenha dó. Uma hora e meia para sair do avião e pegar as malas, jogadas pelos corredores entre as esteiras. É uma vergonha nacional. Falado está.

Vettel na pole de novo, sétima em oito corridas, 22 na carreira. Os treinos de classificação neste ano têm sido mera formalidade para colocar Tiãozinho na primeira posição do grid. Proibiram mapeamento de motor diferente em treino e corrida. Bela merda. O problema não é cartográfico, mas de competência, mesmo: carro melhor, piloto melhor, pole e pronto.

O Q1 eliminou os seis de sempre e Alguersuari. Nada demais no cenário de videogame dessa pista mais artificial que tutti-frutti. Mas é bonito o cenário, isso não se pode negar. O Q2 teve como surpresa a cabeça de Petrov ceifada antes do tempo. Barrichello cometeu um erro banal e ficou em 13º. Mesmo se tivesse acertado a volta de sua vida não faria muita diferença. Tudo normal, também.

E o Q3 não teve nada de emoção. Vettel fez 1min36s975 e só voltou à pista para lixar um jogo de pneus. Não precisava. Webber ainda conseguiu arrancar uma volta boa e levou a primeira fila no apagar das luzes. Heidfeld e Sutil nem andaram e guardaram um jogo de pneus zero para a largada. E o resto foi o rodízio de sempre atrás da Red Bull: Hamilton e Alonso na segunda fila, Massa e Button na terceira, Rosberguinho e Schumacher na quarta.

Essa corrida esteve longe de ser muito comovente em suas três edições iniciais. Com a asa móvel em duas retas, agora, vai ter aquele monte de ultrapassagens de praxe. Dá para apontar alguém como favorito que não seja Vettel? Não, não dá. Com mapa, sem mapa, com escapamento aerodinâmico, sem, dá na mesma.

Volto daqui a pouco, depois que desfizer as malas.

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DAS BATATA

MUNIQUE (em casa) – Nos tempos das viagens da F-1, eu vinha para a Alemanha umas cinco vezes por ano. Eu e a turma toda, para corridas em Nürburgring, Hockenheim, Spa, Budapeste, Zeltweg, qualquer coisa era pretexto para vir para cá, porque aqui é legal. Nenhum de nós, exceto o Baiano, que mora até hoje em Heidelberg, falava alguma coisa em alemão além do básico Bier, Bratwurst e, no caso dos mais letrados, Karttofensalat.

De modo que foi assim que surgiu um de nossos bordões favoritos, o “Das-qualquer-coisa”.

Em alemão, ao menos é o que me disseram um dia, e nunca me preocupei muito em apurar a veracidade dos fatos, há três artigos: Das, Die e Der. Um seria feminino, outro masculino e outro boiola. Não sei bem qual é qual. Daí que depois da primeira cerveja, passávamos a chamar tudo de Das-alguma-coisa, acrescentando “en” ao final de qualquer palavra para demonstrar nossa familiaridade com o idioma tedesco.

É com enorme ternura que lembro desses tempos, não tão distantes assim, mas pertencentes a uma outra vida, talvez. O Reginaldo era o que mais se divertia quando pedíamos Das Conten no restaurante, ou quando reclamávamos das Das Multen que a polícia lavrava em nossos carros irregularmente estacionados no calçadão às margens do Neckar, ou quando solicitávamos Das Telefonen ao pessoal da sala de imprensa. Regi gargalhava de sair lágrima do olho, ainda mais quando a garçonete chegava e alguém dizia Das Puten, e assim era.

Bem, ando meio sumido durante este breve giro pelo reino da Prússia, afinal é uma viagem despretensiosa do ponto de vista turístico e ando meio de saco cheio dessa mania global de dividir, “compartilhar”, tudo, qualquer merda, pelas ditas mídias sociais. Neguinho assa uma maminha em casa, vai para o feicebúqui; excursiona até Praia Grande, pinga vídeo no iutube; janta um miojo, registra no tuíter.

Menos, pessoas, menos. Sejamos relevantes.

E é só pela relevância que venho cá, nesta madrugada fria da Bavária, para relatar o episódio ocorrido há algumas horas no Olympiahalle durante o intervalo da apresentação do épico roqueiro, quando o mais velho sacou de um punhado de moedas para comprar um cone de batatas fritas e quando voltou contou, gargalhando como o Reginaldo, que pediu à moça do caixa Das Batata, e ela não entendeu nada, e então ele sorriu para ela com os olhinhos vivazes e mandou um “Ein Pomme Frite” com o melhor sotaque bávaro que foi capaz de produzir, e a moça deve ter sorrido de volta e lhe entregou as batatas fritas.

Eu não tinha contado para ele que no século passado também costumava falar Das Batata, ou Bataten, na versão barroca, e meus olhos ficaram cheios quando ele contou a pequena travessura linguística, e é ótimo que tais marejamentos ocorram em locais escuros como ginásios em noites de shows musicais porque ninguém vê, nem eles.  O mais novo, atento a detalhes, costuma perceber essas coisas. Por isso fiquei atrás dele durante toda a apresentação do épico roqueiro, procurando disfarçar o significado que tinham para mim aquelas duas horas e meia no Parque Olímpico que há 39 anos, de alguma forma, decidiu pela TV o rumo que minha vida deveria tomar. Eu tinha 7 anos, idade em que se tomam decisões importantes sobre o futuro.

Futuro.

Em verdade vos digo que faço esta pequena viagem por saber perfeitamente que talvez seja a última chance da minha vida de me fazer ouvir por duas cabecinhas ainda curiosas e atentas ao que o pai diz. O pai que fala sem parar e para tudo tem uma explicação, é muita informação, pai, não dá para guardar tudo, reclama um, e o outro só ri. Qual a idade deles?, pergunta o segurança na porta do ginásio, e eu digo 10 e 11, e na verdade deveria dizer 11 e 12, mas me corrijo e digo 12 e 13 para evitar problemas, confuso até o último centímetro quadrado da testa enorme que o mais velho diz ser uma tela de cinema, porque queria que fossem, as idades, 6 e 7, não mais, mas já são quase 12 e 13, e em verdade  vos digo, depois dos 13 eles não vão mais me ouvir com tanta paciência e curiosidade. Não, não vão.

Esta é a última viagem com minhas crianças, em pouco tempo o pouco que sei e posso contar será menos do que eles querem ouvir, e só eu vou achar que ainda são crianças.

Crianças não deveriam crescer, é o que sempre penso quando vejo os dois dormindo. Mas se não crescerem, como serão capazes de dizer Das Batata?

Podem crescer, meninos.

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POR AÍ (4)

MUNIQUE (pode parar, chuva) – Neste pinga-pinga que tem sido o blog nestes dias longe de casa, não posso deixar de recomendar a coluna do Andre Jung pós-Canadá. Se eu ontem fiquei falando mais do mesmo no meu textículo semanal, da bravura de Hamilton e de como é bom ter pilotos como ele em atividade, nosso batera foi bem além e acertou muito mais na mosca.

Button, o que sorri, é que é o cara.

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POR AÍ (3)

AUGSBURG (e faz tudo sozinho, isso é meio chato…) – Sim, vamos meter o pau na Prefeitura! Não a daqui, mas a de SP. Semana passada elogiei a retirada dos guard-rails da Olavo Fontoura. OK, seja lá quem for o dono daquilo, fez sua obrigação. Mas a Marginal Tietê continua sem faixas na reta da Indy. É um puta absurdo. E a CET diz que tem “um projeto para pintar”. Um projeto? O projeto de mandar o ex-secretário de Esportes morar em Londres para “estudar a organização dos Jogos Olímpicos”, esse já foi colocado em prática. Estudar os Jogos Olímpicos? Vai ter Olimpíada em São Paulo?

Vão pro inferno, vão.

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POR AÍ (2)

AUGSBURG (e anda, a bagaça…) – Mais um linquezinho despretensioso, para não deixar passar em branco. Afinal, sexta-feira é dia de coluna. A desta semana, defendendo Hamilton, está aqui.

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POR AÍ (1)

AUGSBURG (só na estrada) – Buenas, macacada. Estou rodando por aí, sem muito tempo de blogar ou tuitar. E com o celular desligado, o que é uma das delícias da vida. Mas para não dizer que estou deixando este espaço à míngua, alguns linquezinhos só para constar.

Começando com o ótimo Text-writer da corrida do Canadá, escrito por @otecnicodunga, que não faço a menor ideia de quem possa ser. Concordo com tudo que ele disse.

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SONHO ABSOLUTO

SÃO PAULO (já pensou?) – Acho que esse motorhome SAAB dois tempos já apareceu aqui antes. Não tenho certeza. Em todo caso, segue o pequeno vídeo que mostra como ele foi encontrado. Depois, restaurado. Consta que só dois foram feitos. É uma das coisas mais lindas do mundo que se move sobre rodas. Quem mandou foi o Jason Vôngoli. Quer saber mais sobre o SAAB 92H feito em 1963, que nunca foi homologado na Suécia por questões de segurança? Aqui tem bastante coisa. Cumpre dizer que não era um projeto da SAAB, mas sim uma trapizonga feita sobre a plataforma de um SAAB 92. E aqui tem um canalzinho dele no YouTube.

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FOTO DO DIA

Spa-Francorchamps, 1955. Olha o líder. E olha o outdoor à esquerda. Enviada pelo Fernando Renault.

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RÁDIO BLOG

Simplesmente sensacional. Uma banda “street” da Finlândia, dentro de um VW Polo. Dica do Rodrigo Borges, que sabe das coisas.

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ENIGMA DO DIA

Que corrida é essa? Onde? Quando? O piloto está fácil. Quem mandou foi o meu amigo Paulo Tohmé, ator de microfilme.

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