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Muito orgulho. O Luis Otávio mandou.

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A VIDA COMO ELA É

Pizzonia e as arquibancadas vazias. Foto Bruno Terena

SÃO PAULO (pó) – Não acabou ainda, estou vendo na TV. O rali que Barrichello promoveu neste fim de semana foi um fiasco total. Mas será tratado como um sucesso amanhã, nos escritórios bonitos da Vila Olímpia e da Nova Faria Lima.

Fracasso porque não é um rali. Porque a pista é horrível e o cenário, idem. Porque os carros são lentos e não são carros de rali, exatamente. Mas fracasso, sobretudo, porque ignorado pelo público. Não tem ninguém vendo lá no estádio, o Parque São Jorge. Ninguém. Motivo? Bem, 120 paus o ingresso é um deles. Aliás, ótimo motivo. Como cobrar 120 paus para ver qualquer coisa ao ar livre em SP? Andaram mudando horários, também. Outra razão é o espetáculo oferecido. Rali do quê, mesmo? Um correndo contra o outro na terra, ok. Mas nem cronometragem na TV tinha. Imagino para quem estava nas arquibancadas.

Não estou aqui esculhambando nada de graça. Não tenho nada contra Barrichello, o promotor, nem conta iniciativa alguma envolvendo automobilismo. Mas tenho tudo contra produtos ruins vendidos como se fossem excelentes. Amanhã, todos os envolvidos dirão que foi demais, o rali. Sigam os caras no Twitter: pilotos, promotores, convidados VIP — essa praga, os convidados VIP nos “lounges”, que amam tudo desde que seja de graça.

Dirão que foi bacana, que a organização foi um show, estrutura de primeiro mundo, um negócio maravilhoso. U-hu.

O problema do automobilismo brasileiro é que ele está infestado de gente babaca, dentro dele e gravitando ao seu redor. E gente mais babaca ainda que acredita na babaquice que os babacas mais espertos vendem. Alguém pagou por esse negócio, claro. A BMW, por exemplo, deve ter dado algum. Afinal, os carros são Mini. Carros bacanérrimos, eu acho o máximo e se tivesse grana compraria um, mas que viraram, na região supracitada, objetos de exibição para uso quase exclusivo em baladas. A Pirelli pagou, vi faixas na pista. Alguém faz manutenção nesses carros e vai ganhar também. Tem um banner da Prefeitura no site oficial. Espero que não tenham entrado com mais do que o banner. Saber que meus impostos são usados para bancar eventos privados é algo que me dá engulhos. Engulhos é uma palavra legal.

Os Mini usados, salvo engano de minha parte, são os mesmos usados numa categoria preliminar da Stock. Estão sendo devidamente estragados nessa buraqueira empoeirada (e depois enlameada) da Fazendinha. Não são preparados para rali. Alguns atolaram. Uma coisa patética. As provas foram chatas, lentas e incompreensíveis. Ninguém entendia nada do que estava acontecendo. Uma caricatura das Corridas dos Campeões que são feitas na Europa há alguns anos.

Não vejo mal, repito, em iniciativa alguma de ninguém. Eu mesmo inventei um campeonato de carros antigos e ele está aí, de pé, meio cambaleando, desde 2003. Mas nunca foi alardeado como algo espetacular, imperdível e sensacional. É legal demais para quem corre e para quem gosta de matar as saudades dos carros que corriam nos anos 60 e 70. Punto, basta. Qualquer coisa que se faça, quando se trata de automobilismo nacional, é digna de aplausos. Mas desde que seja algo realmente voltado para o esporte, para o entretenimento do público que gosta de corridas e, como disse aí embaixo nas mal-traçadas sobre futebol, com alguma pureza de propósito. Esse rali é uma piada, uma brincadeira inventada pelos bacaninhas paulistanos que frequentam o shopping Cidade Jardim. Os pilotos entram de gaiato, piloto gosta de andar de qualquer coisa, se for convidado, vai.

Ontem, colocaram as famosas celebridades para pilotar. Eu vi a lista e não conhecia ninguém, exceto o Seu Jorge, que é cantor — mas sempre que ouço seu nome lembro primeiro do boteco Salve Jorge, que conheço melhor ainda. E quem é que quer ver “celebridades” correndo de Mini na terra do Parque São Jorge? Eu mesmo respondo: os espertinhos das agências, porque eles chamam a “Caras” e a “Quem” para essas merdas, e essas celebridades são fotografadas e aparecem na revista, e aí é um sucesso, claro.

As arquibancadas vazias, a total indiferença da cidade, a qualidade técnica abaixo da crítica da atração, o cenário horroroso, tudo isso vai ser deixado de lado. Mordemos algum, deu certo, foi um sucesso.

É assim que funciona.

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A LIÇÃO DO JAPÃO

SÃO PAULO (hora de parar tudo) – O futebol brasileiro hoje levou uma sova no Japão. E o único que percebeu isso, pelo que pude ler e ouvir por aí, foi o topetudo Neymar. “Hoje a gente aprendeu a jogar futebol”, ele disse. Não sei se exatamente com essas palavras. Mas falou em “aula”, em “lição”. Sacou, acredito, que nada mais será como antes. Ao menos para ele.

Foi precisamente isso, uma aula, uma lição. Mas não apenas porque o Barça enfiou quatro e poderia ter feito mais. Só quem não vê o Barça jogar (e passa toda semana nos canais ESPN) pode ter ficado surpreso com o jogo preciso, bonito, às vezes até chato de tão perfeitinho que é. Não foi a goleada, a lição. Foi muito mais.

Foi a vitória sobre a soberba brasileira. Brasileira do Brasil que se acha melhor que os outros e que não reconhece a superioridade estrangeira. Estou falando de esporte, só, e por enquanto. A vitória sobre a soberba dessa gente que ganha muito mais do que merece, que vende um peixe que não tem, que se autopromove o tempo todo e que conta com a colaboração dos veículos de comunicação de massa para iludir o público, aliados e sócios que são.

O que se viu hoje foi um choque de realidade. Não que todos os times europeus sejam melhores que os brasileiros. Claro que não é disso que estou falando. Mas uma demonstração de como é, de verdade, ter filosofia, princípios, linha de pensamento, conduta, projeto. Jogar o jogo, jogar bonito. “Joga bonito”, aliás, me parece ser algo que a Nike escreve nas camisas da seleção brasileira. Que não joga bonito faz 30 anos. Puro marketing. É isso o que está acontecendo com o esporte no Brasil: está virando puro marketing, produto para vender cota de TV.

O presidente do Santos faz aquela pirotecnia toda para não vender o Neymar e o resto do time é uma merda. Marketing. O tal de Ganso parece um dândi aborrecido, mas é tratado como uma espécie de Zico dos novos tempos. Marketing. O Corinthians contrata um gordo descompromissado como Adriano, o cara nem joga, mas vende camisa. Marketing. O São Paulo traz de volta o centroavante bichado, coloca 40 mil pessoas no Morumbi e ele só joga seis meses depois. Marketing. O Flamengo paga (ou não paga, sei lá) os tubos para ter o dentuço, o dentuço não joga nada, mas se comporta como se fosse algum tipo de deus sobrenatural. Marketing.

Neymar, coitado, ótimo jogador, virou marketing puro. Tem fila de empresas querendo patrociná-lo, para alegria das agências de publicidade. Virou, em definitivo, uma celebridade nacional, um sex-symbol, aparece em “Caras”, no “Fantástico”, nas “Altas Horas”, nos programas da Angélica e da Ana Maria Braga, no CQC, na Gabi, sei lá onde mais. Normalmente, não tem quase nada de relevante a dizer. Retorno, é tudo que querem. Retorno.

Enquanto isso, se for possível, que o futebol não atrapalhe muito. Só que uma hora atrapalha. Como hoje, quando foi preciso jogar futebol, e foi uma humilhação danada, um time do tamanho e da história do Santos olhando o Barça jogar e brincar de roda, deu até dó. O primeiro tempo, então, beirou o ridículo. Massacre da serra elétrica. Aí acaba o jogo e vem o Muricy, cara de quem eu gosto, admiro mesmo, falar a seguinte merda: “O sistema que eles usaram, no Brasil, seria considerado um absurdo. Eles jogaram em um 3-7-0, porque perderam (os atacantes) Sánchez e Villa e entraram com mais um meio-campista (Thiago Alcântara). Se você faz isso no Brasil, é caso de polícia, mandam prender”.

Quem manda prender? A torcida? A imprensa? O dirigente? Cadê a coragem, os colhões? (É “colhões” ou “culhões”?) Cadê a personalidade, a confiança no taco? Qual técnico no Brasil é capaz de fazer um time jogar como o Barça? Dá um trabalho danado. Tem de treinar, treinar, treinar. Olhar para a molecada da base, dar chances a garotos, estimular a criatividade, a graça, a molecagem. E treinar, treinar, treinar.

E não ter medo.

O futebol brasileiro, salvo a raríssima exceção de uns caras lá no Canindé (digam o que quiserem, caguei para todos vocês que vão falar as merdas de sempre sobre a Série B etc; vi a Portuguesa jogar neste ano e vocês não viram, e se for assim o resto da vida, jogando para a frente, com alegria e sem se importar com vitórias ou derrotas, para mim está bom), é feito de gente medrosa, em toda sua hierarquia. Só tem cagão de merda, como diria o sábio Dunga.

Eu, pessoalmente, nem acho o tipo de espetáculo produzido pelos impecáveis catalães o mais agradável de todos. É belo, não se nega, mas por vezes entendiante e pouco emocionante. Quase sempre sabe-se o resultado, não há sobressaltos. Mas aí é questão de gosto. Não se nega, também, que é um time que joga bola, e que joga para fazer gols, e que seus jogadores se divertem. E não fazem faltas, não desprezam ninguém, fazem aquilo que aprenderam a fazer desde moleques, lá no terrão deles que deve ter uma grama legal e, especialmente, professores decentes. Professor, ao contrário do que acham os brasileiros, não é o picareta que sai cagando regra para seus jogadores e para a imprensa, 4-3-2-1, coloquei fulano para ocupar aquele setor, para dar mais qualidade ao meio-campo, para contra-atacar com mais velocidade pelos lados. Professor é quem pega um menino de 8, 9, 10 anos, e ensina. Ensina a brincar com a bola, a respeitar o adversário, a dar um passe, a buscar o gol, a se divertir. Ensina a ser gente, enfim.

O futebol brasileiro é dirigido e frequentado por pessoas da pior espécie, a começar do topo da pirâmide, o presidente da CBF. Não são, em sua maioria, pessoas respeitáveis — de novo, em toda a hierarquia. Os poucos que são sucumbem. É um ambiente retrógrado, reacionário, conservador, promíscuo.

O Barça é tudo isso ao contrário. Essa é a grande lição deste domingo e que deveria ser aprendida por aqui. Mesmo num mundo cada vez mais idiota, e aí não estou falando mais só de esporte, é preciso alguma pureza de propósitos e gente de bem disposta a defendê-los. Quando se tem, dá até para ganhar jogos e campeonatos, afrontar o sistema, dar um tapa na mediocridade. E o futebol, este vilipendiado, talvez seja a única coisa capaz de fazer as pessoas perceberem isso, de vez em quando.

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RÁDIO BLOG

Terço, lembram? Dica da Rituska, soviética de Minsk. E no Canecão, que não é mais.

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MOTOLAND

Uma DKW RT125, 1961, clicada pelo Jason Vôngoli em Buenos Aires. A combinação de cores é linda.

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O RALI DO RUBENS

SÃO PAULO (pingando) – E aí, macacada? Alguém foi ao Parque São Jorge no primeiro dia do rali organizado por Rubens Barrichello? Contem tudo! Sempre tenho interesse, quando desses eventos, por informações sobre público, organização, pontualidade, essas coisas. Sendo assim, conto com os depoimentos da blogaiada.

A foto abaixo é do Bruno Terena e acho que é o carro do Rubinho.

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RÁDIO BLOG

Eu ia fazer a mesma pergunta que fiz outro dia, mas não precisa.

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ESQUISITICES

Vocês já repararam que às vezes tiro o dia para desovar contribuições enviadas para as centenas de seções fixas deste blog… Que tal este NSU desenhado na Pininfarina? Coisa do Humberto Corradi.

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IGUAL QUE NEM

SÃO PAULO (só para registro)Minha coluna de hoje está aqui e é exatamente igual ao que escrevi agora há pouco sobre a Force India, então nem precisa clicar.

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ENCHE O TANQUE

Carlos Olivi mandou (faz tempo…). Dica: é no Rio, 1959. Quero ver quem sabe onde.

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