SÃO PAULO (bem bom) – Foi bom que teve tanto problema em pit stop hoje em Silverstone, para as pessoas entenderem que erros acontecem. E nem sempre a vítima é brasileira. Hoje, foram dois enormes: com Vettel, que lhe tirou a vitória, e com Button, que perdeu a vice-liderança do campeonato. Sebastião, o alemão, liderava quando a Red Bull empacou na segunda parada. Alonso ganhou a ponta e lá ficou até o final. Jenson Bonitão saiu de seu pit com a roda dianteira solta. O cara liberou o carro antes de o mecânico colocar a porca.
Acontece. Numa F-1 com tantos pit stops, muitos erros aconteceram e vão acontecer até o fim do ano. Não é só o Massa, tadinho, que sofre nos boxes.
Massa que, por sinal, não embarcou na de se sentir coitadinho depois da linda, quase épica, disputa com Hamilton pelo quarto lugar na última volta. Foi bonito pacas. Os dois carros chegaram arrebentados, tocaram-se mais de uma vez nas últimas curvas, e no final o inglês ficou na frente por 0s024. Felipe precisava mostrar combatividade, vontade. Mostrou. Se não deu certo, paciência. No Canadá deu. Espero que a FIA não puna ninguém, como fez de maneira ridícula com Schumacher no início, depois de uma escorregada e um toque involuntário em Kobayashi.
Schumacher, que admitiu o erro mas achou a punição exagerada, foi um dos destaques da prova. Porque tomou um stop & go (e disse que um drive-through seria menos rigoroso), foi o primeiro a colocar slicks com a pista ainda molhada, deu uma volta inteira sem bico, passou gente pacas e terminou em nono, nos pontos, depois de uma ótima largada e uma corrida divertida. Rosberguinho também foi bem, em sexto. A Mercedes acabou se saindo melhor na corrida do que na classificação, que foi desastrosa.
Pérez, o Chapolim Colorado, foi outro que andou forte e terminou nos pontos, em sétimo. É muito bom, esse rapaz. Bom partido. Guia bem e tem um belo dote. Grana, estou falando de grana. Não que é bem dotado. Tarados. E Heidfeld, discreto, colocou a combalida Renault nos pontos. Menção honrosa.
Agora, falemos de Alonso. É mesmo El Fodón, como vocês dizem. Alguém que justifica o salário que ganha. Claro que essa vitória, a primeira da Ferrari no ano, a primeira desde a Coreia no ano passado, não vai colocar os vermelhos na luta pelo título. O título está definido. Vettel, em nove corridas, tem seis vitórias e três segundos lugares. E hoje, mesmo com a sacaneada da FIA na história dos difusores, tinha chances de vencer. Perdeu por causa da parada desastrosa nos boxes. Mas ganharia com uma margem bem menor do que vinha ganhando. A Ferrari se aproximou, é evidente, valendo-se da proibição dos escapamentos aerodinâmicos. Mas não o bastante para virar o jogo de uma hora para outra. Foi uma vitória circunstancial. E “alonsal”.
Quem sofreu foi a McLaren. Além do problema de Button com a roda solta, Hamilton conviveu com um carro irregular durante toda a prova. Mas brigou de forma até comovente para conseguir alguma coisa, e por isso saiu aplaudido de Silverstone. Sofreu, também, com a proibição do bafo quente nos difusores. Até a gasolina estava acabando.
Foi uma corrida legal, sem aquela putaria de milhões de ultrapassagens por conta da asa móvel, mas com disputas por posições relevantes até o fim. A maior delas, esteticamente, entre Massa e Hamilton. Mas a principal, entre Vettel e Webber. Nas últimas voltas, o australiano chegou e tentou. Podia ter dado uma merda federal, e Christian Horner entrou no rádio para dar sua versão de “Fernando is faster than you”: “Maintain the gap”. Webber disse que não gostou de ser importunado pelo rádio e falou que ignorou as ordens. Tentou passar, não conseguiu, não iria fazer nada de idiota e tirar os dois da prova, chegou em terceiro, chega desse assunto. O mesmo fez Vettel, tentando minimizar a saia-justa.
E foi isso. Alonso chegou a 27 vitórias na carreira, 60 anos depois de Froilán-Gonzalez ganhar em Silverstone com uma Ferrari que hoje pertence ao acervo de Bernie Ecclestone. Foi a primeira vitória do time na F-1, em 14 de julho de 1951. Fernandinho deu umas voltas com ela antes da largada. A turma de Maranello está apaixonada pelo espanhol, que vem ser a única coisa realmente de ponta na equipe — o resto é tudo meia-boca, precisa comer muito arroz com feijão para bater de frente com os rubrotaurinos, pelo andar da carruagem. Com bafo no cangote, sem, o normal é a Red Bull continuar vencendo. Mas Alonso está sempre pronto quando alguém dá mole. Foi assim hoje.