JEDDAH ON FIRE (3)

Hamilton e Russell: mais de quatro horas de reunião

SÃO PAULO (então tá) – Vai ter corrida. É a primeira informação que deve ser dada neste momento. Mas não foi fácil chegar a essa decisão. Depois do segundo treino livre em Jedá, chefes de equipe se reuniram com a direção de prova e da Liberty. Resolveram correr. Os pilotos, então, se fecharam numa sala. E lá ficaram por quatro horas deliberando sobre o assunto. Não houve unanimidade entre eles. Pelo menos cinco — Leclerc, Russell, Bottas, Gasly e Hamilton — ergueram a voz defendendo um boicote. Por volta de 1h30, madrugada em Jedá, os chefes de equipe voltaram ao autódromo e foram para a sala da direção de prova. Às 2h20, Russell, como dirigente da GPDA (Grand Prix Drivers Association) se dirigiu ao local para comunicar a eles o que tinha sido decidido entre os pilotos.

Fora da sala, dirigentes como Christian Horner, Zak Brown e Toto Wolff, disseram: “Vamos correr”. Gasly foi dos poucos pilotos a dar declarações rápidas à imprensa. “Todos puderam emitir suas opiniões”, resumiu. “Estamos alinhados em nossa posição.” Aparentemente, mesmo os contrários à realização do GP decidiram acatar a decisão da maioria. Eram 2h45 quando o GP da Arábia Saudita foi confirmado. FIA, Liberty e GPDA não emitiram documentos até as 3h30.

Às 11h, amanhã, acontece o terceiro treino livre em Jedá. Às 14h, a definição do grid. A menos de 20 km do circuito, bombeiros seguem tentando apagar o grande incêndio que consome instalações da Aramco, a estatal petrolífera da Arábia Saudita. Elas foram atingidas por um míssil disparado pelos rebeldes houthis que travam uma guerra civil contra o governo do vizinho Iêmen, governo este apoiado política e militarmente pelos sauditas.

De acordo com Stefano Domenicali, CEO da Liberty, a dona da F-1, as autoridades locais garantiram que todos no autódromo estarão seguros.

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JEDDAH ON FIRE (2)

Comunicado dos organizadores: “ataque”, diz o texto

SÃO PAULO (brincando com fogo) – Não me considero um fatalista/alarmista, mas julgo absurdo o prosseguimento das atividades em Jedá depois de ler o comunicado acima, dos organizadores do GP da Arábia Saudita. O texto fala literalmente em ataque às instalações da Aramco. É um texto oficial. Mesmo assumindo que houve um atentado — as versões disponíveis falam em drones e mísseis –, a F-1 decidiu seguir o jogo, confiando nas autoridades sauditas.

Outro comunicado, este da categoria em si, diz: “A F-1 está em contato com as autoridades relevantes depois da situação verificada hoje. As autoridades confirmaram que o evento pode continuar conforme o planejado, permanecerão em contato com as equipes e seguirão monitorando a situação de perto”.

Notem que a F-1 não usa a palavra “ataque”. Prefere “situação”. A situação é que a menos de 20 km do circuito bombeiros, neste momento, tentam apagar o incêndio em tanques de petróleo supostamente atacados por rebeldes houthis que lutam no Iêmen contra a Arábia Saudita. Enquanto isso, na pista, 20 carros participaram do segundo treino livre para a segunda etapa do Mundial.

Tempos em Jedá: Ferrari na frente

Eis o resultado, com a Ferrari voltando a andar na frente, como fizera na primeira sessão, ainda com a luz do dia. Charles Leclerc foi o mais rápido com 1min30s074, mesmo tendo perdido quase meia hora de treino depois de tocar o muro com a roda dianteira esquerda de seu carro. O parceiro Carlos Sainz também lambeu o muro e andou pouco. Ficou em terceiro. Entre os dois, Max Verstappen, 0s140 mais lento que o monegasco.

Foram apenas alguns dos incidentes do segundo treino livre, que teve também uma quebra de Kevin Magnussen e outra de Yuki Tsunoda. Para o dinamarquês da Haas, o prejuízo foi maior. Ele não conseguiu fechar volta no primeiro treino e andou pouco no segundo. Como não correu em Jedá no ano passado, terá pouco tempo de pista para se adaptar a um circuito tinhoso por ter média de velocidade muito alta, curvas à farta — 27 — e muros muito próximos.

Leclerc: melhor tempo, mas beijou o muro

A sessão noturna começou com atraso de 15 minutos porque os chefes de equipe se reuniram com a direção da F-1 para entender direito o que estava acontecendo no depósito da Aramco. A fumaça negra do incêndio foi sentida por todos no paddock. Stefano Domenicali, CEO da Liberty, disse que as atividades estavam mantidas. “Nos sentimos seguros”, falou.

Nem todo mundo tinha a mesma percepção. Sergio Pérez, segundo relatos, era um dos mais preocupados com a situação. O guru da Red Bull Helmut Marko, com toda fineza que lhe é peculiar, fez troça. “Não sei por que Checo está nervoso. No México não é muito mais seguro do que aqui”, disse o austríaco do olho de vidro e cara de mau.

A Mercedes voltou a ficar atrás das duas equipes mais fortes deste início de temporada, com Hamilton em quinto, 0s439 atrás de Leclerc, e Russell em sexto, a 0s590. Seus carros continuam saltitando na pista, vítimas do efeito “porpoising” — a interrupção do fluxo de ar sob o assoalho por frações de segundo porque batem muito no asfalto.

A equipe está usando em Jedá uma asa traseira menos carregada, para reduzir o arrasto aerodinâmico. Melhorou um pouco, mas não muito. Lewis e George seguem com dificuldades para acompanhar as duplas de Ferrari e Red Bull, que são as favoritas à pole amanhã e à vitória no domingo. Hamilton pediu até a troca de seu banco no meio da segunda sessão, para tentar melhorar a posição no cockpit.

Hamilton, quinto: asa menor do que no Bahrein

É provável que nada aconteça nos próximos dois dias que possa colocar as vidas de todos no autódromo em risco. Tomara. Medidas extras de segurança, óbvio, estão sendo tomadas pelas autoridades sauditas. Mas o simples fato de ter havido um ataque tão próximo ao local do evento na abertura dos trabalhos deveria ser levado mais a sério pela F-1.

Após o treino, todos os pilotos foram à direção da F-1 para conversar sobre o assunto e discutir quais medidas poderão ser tomadas a partir da evolução do quadro de tensão. As entrevistas do final da noite foram canceladas.

Incêndio e autódromo: menos de 20 km

O presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem falou que “o alvo deles é a infraestrutura, não civis ou, claro, o autódromo”. “Checamos todos os fatos e recebemos a garantia de que este é um lugar seguro. Vamos correr”, determinou o dirigente, nascido nos Emirados Árabes Unidos.

Será? O próprio presidente da FIA, praticamente um local, assume que está fazendo um GP numa zona de conflito militar. Faz sentido?

É sobre isso que vamos conversar mais tarde, às 19h, no “Fórmula Gomes” em nosso canal no YouTube. Espero todos lá!

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JEDDAH ON FIRE (1)

Fumaça ao fundo: F-1 corre?

SÃO PAULO (absurdos mil) – O primeiro treino livre para o GP da Arábia Saudita acabou agora há pouco, Leclerc foi o mais rápido. Vettel continua fora, com Covid-19. A Mercedes mexeu nas asas dos carros de Hamilton e Russell e não adiantou nada. Bottas ficou em terceiro.

E daí?

Daí que há a confirmação de um grande incêndio em instalações da Aramco, empresa estatal de petróleo do país, a menos de 20 km do circuito. Quatro dias atrás houve relatos de um míssil que teria sido interceptado em direção a Jedá, onde acontece a corrida. Teria sido disparado por rebeldes houthis do Iêmen, que na vida real está em guerra com a Arábia Saudita. A ditadura saudita não dá informações precisas. Transparência não faz parte do dia a dia do país.

Agora há pouco Verstappen disse pelo rádio que estava sentindo cheiro de fumaça e de queimado enquanto fazia uma volta pela pista que recebe a segunda etapa da F-1 neste fim de semana. A equipe respondeu que não era nada no seu carro.

A fumaça pode ser vista na foto acima. Fato: há um incêndio de grandes proporções. O que o causou, ainda não se sabe. No autódromo, a informação que circula é de que a F-1 está consultando as autoridades sauditas sobre o motivo do fogo. Ainda não obteve resposta. É a única coisa que se sabe de concreto até agora.

Claro que se o incêndio tiver sido causado por um ataque, a corrida tem de ser cancelada imediatamente e todo mundo tem de ir embora correndo. Mas, por enquanto, tudo segue como se nada estivesse acontecendo. Os carros da F-2 estavam andando até minutos atrás. Drugovich fez a pole. O segundo treino livre para o GP de Jedá está marcado para as 14h.

É o fim do mundo, realmente.

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ONE COMMENT

Vermelho sempre cai bem. Seria uma homenagem à dobradinha da Ferrari?

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BAHREIN BY MASILI

Por erro meu, a charge do GP do Bahrein só está sendo publicada hoje, quinta… Marcelo Masili, para nossa sorte, segue sendo o cartunista oficial deste blog! A partir da semana que vem sua arte volta à seção “Sobre ontem…”, como sempre.

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FOTO DO DIA

Roger Penske e Newgarden: alguém sabe por que a grana na foto?

SÃO PAULO (é coisa…) – Não poderíamos deixar de registrar aqui a 600ª vitória da Penske no automobilismo, que veio com Josef Newgarden no Texas domingo, na Indy. Os números abaixo foram extraídos do excelente perfil “Fórmula Indy Oficial” no Twitter. É uma história e tanto…

1ª vitória – Dick Guldstrand, George Wintersteen e Ben Moore (6/2/1966), 24h de Daytona – USAC-FIA sports cars

50ª vitória – Mark Donohue (18/7/1971), Michigan 200 – F-Indy

100ª vitória – Bobby Unser (24/5/1981), 500 Milhas de Indianápolis – F-Indy

200ª vitória – Paul Tracy (25/05/1997), GP de Gateway – F-Indy

300ª vitória – Ryan Briscoe (1/6/2008), GP de Milwaukee – F-Indy

400ª vitória – Brad Keselowski (6/9/2014), GP de Richmond – Nascar Cup

500ª vitória – Brad Keselowski (16/9/2018), GP de Las Vegas – Nascar Cup

600ª vitória – Josef Newgarden (20/3/2022), GP do Texas – F-Indy

Pilotos: 50 pilotos diferentes venceram pelo menos uma vez pela Penske. Com 67 vitórias, Brad Keselowski é o recordista, seguido por Mark Donohue (59) e Scott McLaughlin (49). Rusty Wallace, Joey Logano e Will Power estão com 37 e Helio Castroneves vem na sequência, com 36.

Campeonatos: a Penske venceu em 14 séries. O “top 5”: F-Indy (224), Nascar Cup (134), Nascar Xfinity (81), Australian V8 Supercars (56) e IMSA (32). A Penske também ganhou na SCCA Trans-Am, Can-Am, USRRC, ARCA, WEC, F5000, USAC Stock Cars, F-1 (GP da Áustria de 1976 com John Watson) e FIA Competition.

Pistas: a Penske ganhou em 92 circuitos ao redor do planeta, sendo 29 vezes em Indianápolis, 26 em Michigan e Mid-Ohio, 24 em Pocono e 19 no Texas. Em se tratando de continentes, a Penske só não ganhou na África.

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DICA DO DIA

SÃO PAULO (sensacional) – Primeiro, leiam a mensagem que o Iúri Ribeiro me mandou há quase dois meses:

Olá Flavio, tudo bem? Acompanho seu trabalho no blog há muitos anos e seus livros também. Não sei se conhecia essa história do Fangio, mas de qualquer forma, até porque não me lembro de ter visto no blog, acho que seria interessante para publicação. O meu irmão, Jean Carlo Ribeiro, estava fazendo pesquisas para sua tese de doutorado sobre a história dos esportes em Goiás à época da construção de Goiânia, entre 1930 e 1945, e encontrou essa notícia da participação do Fangio na prova “Getúlio Vargas”, organizada pelo Automóvel Club do Brasil. A etapa entre Uberaba e Goiânia, vencida por Fangio, aconteceu em 24 de junho de 1941, dia do seu aniversário. Segue o link da publicação no perfil do Grupo de Pesquisa em História do Lazer da UFMG com texto do meu irmão.

O Jean Carlo, irmão do Iúri, faz o seguinte resumo no Facebook:

No ano de 1941, o Automóvel Club do Brasil organizava a prova automobilística “Presidente Getúlio Vargas”. Cerca de 50 pilotos largavam do Rio de Janeiro em direção ao interior do Brasil, passando pelos estados de Minas Gerais, Goiás e São Paulo. Depois de oito dias de competição, retornavam à então capital federal para receber a bandeirada final após percorrer 3.731 km, divididos em sete etapas. Entre os competidores, Juan Manuel Fangio. Àquela altura, ninguém imaginava que por aquelas poeirentas estradas sertanejas pilotava aquele que se tornaria uma das maiores figuras do automobilismo mundial. Em 24 de junho de 1941, dia em que completava 30 anos, Fangio vencia a terceira etapa (disputada entre Uberaba e Goiânia) assumindo a liderança geral da prova para não mais perdê-la, prenunciando os triunfos que conquistaria em pistas europeias na década seguinte. Depois de então, na história de inúmeras cidades, surgiria o orgulhoso registro dos dias em que o pentacampeão mundial Juan Manuel Fangio “pilotou pelo sertão brasileiro”.

E, na mesma postagem, indica este link aqui de 2018 do site “Uberaba em Fotos”, que traz um relato mais completo da prova, com fotos espetaculares e detalhando cada etapa. O cartaz abaixo, que extraí desse site (e pelo crédito é do Arquivo Nacional), promove a corrida com sua data original — ela acabou acontecendo no mês seguinte.

O percurso é fantástico. Sair do Rio para BH, depois Uberaba, Goiânia, Barretos, Poços de Caldas, São Paulo e Rio de novo… Fico imaginando o que era riscar este país há 80 anos por estradas de terra sem nenhum equipamento de localização via satélite como os que usamos hoje. Apenas mapas. E olhe lá. E de pé embaixo, sem dó. Isso aí é quase um Caminho de Santiago de Compostela automobilístico!

O Chevrolet que Fangio usou nessa corrida está no museu que leva seu nome em Balcarce, na Argentina. Pensem o que tem de história dentro dele. Dá vontade de chorar, até.

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TODAS CABEÇAS

SÃO PAULO (mudou) – Estes são os 20 capacetes da temporada na F-1. Ninguém mais mantém o desenho de um ano para o outro, são outros tempos. Antes a gente conseguia reconhecer um piloto pelo capacete. Hoje, mal consegue vê-lo dentro do carro com nos cockpits com laterais muito altas e o Halo. Faz parte, ninguém precisa morrer por causa disso.

A era dos cascos icônicos, como o amarelo de Senna ou o de Piquet com a gota vermelha, entre tantos, acabou. Não há nada de bom ou mau nisso, apenas é assim. Eu mesmo, piloto absolutamente irrelevante, já mudei a pintura de meus capacetes várias vezes. Vou até fazer um post sobre isso a seguir, se encontrar fotos de todos eles. Porque vou mudar de novo!

Mas digam, irmãos e irmãs automobilistas… Qual desses aí embaixo vocês acham o mais bonito? E puxando pela memória de tempos d’antanho, qual vosso capacete predileto?

Ah, só para constar, meus preferidos aí em cima, pela ordem, são os de Sainz e Vettel. Os demais, sinceramente, não me falam ao coração. Do passado, sempre gostei muito do já citado de Piquet e de alguns outros como os de Damon Hill, François Cevert, Jackie Stewart… Mas é o tipo de lista que eu mudo toda hora.

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