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Nada se cria… Lambo Modena 291, 1991, cuja história está aqui, contada brilhantemente pelo Rodrigo Mattar.

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TESTANDO N’AREIA (1)

SÃO PAULO (cozinhando aqui também) – A primeira coisa que RB18 disse para AT03, assim que viu W13 na garagem ao lado, foi: “Você viu como tá raquítica? Deve estar faltando comida lá, não é possível perder tanto peso em tão pouco tempo”. AT03 respondeu: “Isso aí é lipo”. MCL36, um pouco mais adiante, chamou F1-75 num canto. “Fez bariátrica, tá na cara”, falou. “Eu bem que tô precisando…”, suspirou a outra. “Vivo brigando com a balança.” Numa rodinha à parte, outras três partiram para a fofoca explícita. “Só tem osso. Povo gosta de carne, de curvas. Não vai pegar ninguém”, disse a A522, venenosa. “É a moda, cinturinha fina. Faz sucesso no Tinder”, discordou FW44. C42 foi mais maldosa: “Tá saindo com o personal, certeza”. VF-22 se juntou ao grupo para tentar se enturmar e mandou a tese: “Dieta de internet. Dá resultado rápido, mas depois volta tudo de novo”.

AMR22 percebeu que W13 estava meio isolada e se aproximou. “Menina, como você emagreceu! Olha, isso é coisa de quem tá namorando, hein? Tá malhando? E essa sobrancelha, fez onde?” W13 deu uma paradinha, se olhou no espelho, voltou-se para a amiga e perguntou: “Gostou mesmo ou tá falando só pra me agradar? Não ficou meio esquisito, não?”. “Nada, tá linda!”, elogiou AMR22. “No começo as pessoas estranham, mas depois todo mundo vai querer fazer igual. Depois me passa o telefone do teu projetista”, falou, dando uma piscadinha e pedindo licença porque estava atrasada. Mas saiu falando baixinho, para ninguém ouvir: “Me dá o telefone pra eu não ligar nunca pra ele, magricela horrorosa…”.

O carro que a Mercedes levou Bahrein para a abertura da segunda sessão da pré-temporada na F-1 é completamente diferente daquele que foi usado há alguns dias nos treinos de Barcelona. Os “sidepods”, conhecidos também como “laterais”, foram reduzidos a quase nada. “Zeropods”, trocadilhou o Grande Prêmio. A equipe partiu para uma solução bem… radical, para dizer o mínimo. Imagino a conversa no departamento de projetos do time, na Inglaterra. “O que é que está atrapalhando o fluxo de ar?”, perguntou Toto Wolff. O engenheiro-chefe ajeitou os óculos, empertigou-se e se preparou para desfiar toda sua erudição aerodinâmica. “Ah, os ‘sidepods’ são o ponto nevrálgico”, começou. “O senhor sabe, Herr Wolff, com este novo regulamento e a perda de relevância das asas, sem os ‘barge boards’ e dependendo da eficiência dos tubos venturi que reduzem a pressão sob o assoalho e produzem o efeito-solo, é muito difícil encontrar um compromisso entre…”, mas antes que o sujeito — insuportável, diga-se, embora competente — concluísse o raciocínio incompreensível, Toto o interrompeu e decidiu: “Então arranca tudo. Tira essa merda toda, faz o carro sem ‘sidepod’ nenhum e acaba logo com essa história!”.

A magreza do W13 no deserto de Sakhir não despertou comentários invejosos e/ou desdenhosos apenas de suas colegas sobre rodas. Christian Horner, chefe da Red Bull, já saiu atirando (depois negou que tenha falado o que falou, mas ele falou). Disse que o automóvel rival “desrespeita o espírito das regras” e que a base para os espelhos retrovisores que a Mercedes bolou na nova configuração “são asas, e não suportes”. “E ainda têm defletores verticais”, concluiu. Toto rebateu em tons definitivos. “O cara fala isso meia hora depois de ver o carro pela primeira vez? Não tem nada ilegal. Não nos encham o saco!”.

(A última frase eu imagino que ele tenha dito, mas ele não disse.)

Russell na noite barenita: chocou, mas não impressionou

Se é verdade que o carro esquelético chocou a concorrência, com as laterais magérrimas e o assoalho praticamente exposto, tão delgado que nem tinha onde espetar um espelhinho, não é menos verdade que ao fim do primeiro dia de treinos ninguém ficou muito impressionado com os resultados na folha de tempos.

Hamilton andou com o carro de manhã e Russell, de tarde. O inglês ficou com o 11º tempo da quinta-feira entre os 15 pilotos que andaram. Russell foi o nono. O mais rápido foi Pierre Gasly, da AlphaTauri, com 1min33s902 cronometrados em sua melhor volta, usando os pneus mais macios da Pirelli. Carlos Sainz, de médios, e Charles Leclerc, idem, colocaram a Ferrari em segundo e terceiro.

Sempre vale recordar os tempos de referência para entender quanto os novos carros estão mais lentos que os modelos aposentados ao final da última temporada. No ano passado, Verstappen fez a pole no Bahrein em 1min28s997. A melhor volta, em corrida, foi de Bottas: 1min32s090. Bom lembrar, também, que o objetivo do novo regulamento não foi deixar os carros mais lentos, e sim reduzir custos de construção e, sobretudo, permitir que eles andem mais próximos uns dos outros sem perda de eficiência aerodinâmica.

Os tempos de hoje: Gasly mais rápido com pneus macios

Todos sabemos que cada equipe estabelece seu próprio programa de testes em função das necessidades, e que por isso nem sempre os resultados indicam exatamente o que vai acontecer no campeonato. Na melhor das hipóteses, dão algumas pistas. A Ferrari, que começou bem em Barcelona, parece seguir a passos firmes sem se preocupar em emocionar sua apaixonada torcida. Red Bull e Mercedes, a exemplo do que aconteceu em Barcelona, não comoveram ninguém até agora. A AlphaTauri tem recebido elogios. O resto está mais ou menos onde se esperava que estariam.

Mas vamos às nossas notinhas policromáticas que a gente ganha mais…

VOO ATRASOU – Apenas para registrar e não cometer injustiças, ontem Hamilton não tirou foto com os outros pilotos pedindo o fim da guerra na Ucrânia porque seu avião ainda não tinha chegado a Manama. Mencionei outros dois que ficaram fora do retrato, Fittipaldi e Kubica. O primeiro, provavelmente, estava atrapalhado fazendo o banco de seu carro. Já o polonês nem está escalado pela Alfa Romeo para o testes, então przepraszam za to, Robert.

PELA PAZ – Ainda no “contexto da guerra”, como diriam os comentaristas, Vettel está treinando no Bahrein com uma mensagem pacifista em seu capacete, que ganhou faixas em azul e amarelo — as cores da Ucrânia.

Capacete de Vettel: pela paz

ENGORDA – O regulamento da F-1 aumentou de 752 kg para 795 kg o peso mínimo para o conjunto carro-piloto neste ano, uma engorda que se explica principalmente por causa das rodas maiores de 18 polegadas e do reforço em algumas estruturas. Mas quase nenhuma equipe conseguiu fazer carros dentro do peso — estão todos mais pesados, com exceção de McLaren e Alfa Romeo, que chegaram perto. Por acordo comum, esse peso mínimo será ampliado em 3 kg na próxima reunião da Comissão de F-1.

MAIS TEMPO – A Haas teve dificuldades com a logística e chegou ao Bahrein 36 horas depois que todas as outras equipes — o avião teve problemas técnicos na Turquia. Por isso, perdeu o período da manhã hoje e não treinou. Só andou de tarde, com Pietro Fittipaldi. O time pediu autorização para compensar no domingo, mas McLaren, Alpine e Alfa Romeo votaram contra. O máximo que as rivais aceitam é dar duas horas a mais para a Haas testar amanhã e sábado à noite. A equipe ainda não decidiu se vai fazer isso. Günther Steiner, o chefe, acha que é trabalho demais para seus mecânicos esticar jornadas que já serão longas nos próximos dois dias.

MISSÃO CUMPRIDA – O neto de Emerson completou 47 voltas e ficou com o último tempo do dia, registrado com o pneu protótipo da Pirelli, um composto que ainda não se sabe se será usado nesta temporada. Seu trabalho pela Haas, neste ano, terminou — dificilmente participará de novos testes, que são muito limitados e precisam ser aproveitados pelos titulares. Amanhã, Schumaquinho treina de manhã e o repatriado Magnussen, de tarde.

PORPOISING – Você vai ouvir muito esta palavra ainda neste ano. Vem de “porpoise”, boto, sim, o mamífero aquático, também conhecido como golfinho. Já viu um golfinho nadando? Pois o que está acontecendo com os carros novos em altas velocidades é parecido com o movimento dos golfinhos nadando — eles têm a pele muito elástica e deformam o corpo como se ondulassem, para ganhar impulsão. Na F-1, como os carros estão andando muito próximos do asfalto para acelerar a passagem do ar sob o assoalho, às vezes falta… ar! E o carro bate no chão, porque perde pressão aerodinâmica. Quando bate, levanta. E o ar volta a passar. E aí abaixa, bate de novo e a pressão some. E isso acontece em frações de segundo numa frequência muito alta, o que faz com que os pilotos quiquem na pista, como se estivessem em alta velocidade numa estrada de terra cheia daquilo que chamamos de “costelas de vaca”.

Gasly depois do treino de hoje: pospoising

PERIGOSO – Em Barcelona ficou claro que os engenheiros terão de encontrar soluções para isso. Imagens de Gasly hoje, tomadas pela câmera que fica de frente para seu capacete, foram assustadoras. Não dá para guiar daquele jeito. A solução mas fácil é erguer um pouco o carro, para evitar que o assoalho bata no chão. Mas isso vai reduzir o efeito-solo. Até agora a FIA não falou nada. Mas é bom começar a se preocupar.

“NÓIS CAPOTA…” – Das grandes, a McLaren foi quem teve mais problemas hoje. Deu apenas 50 voltas com Norris, que enfrentou dificuldades com os sistema de refrigeração dos freios. Segundo o piloto, talvez a equipe leve algum tempo para resolver, o que preocupa. Daniel Ricciardo deve treinar amanhã. Mas ele passou mal e ainda não está confirmado.

Norris: problemas nos freios

SEM F-1 – A Liberty confirmou hoje que rompeu o contrato de transmissão do Mundial que tinha com a Match TV, da Rússia, e avisou que o sinal da F1 TV também não estará mais disponível no país nas plataformas digitais.

SEM RÚSSIA – É mais uma retaliação da categoria aos russos, que se junta ao cancelamento do GP em Sóchi e, numa esfera mais global, à proibição de eventos chancelados pela FIA na Rússia e em Belarus, além do banimento dos hinos e bandeiras desses países em competições internacionais. Pilotos russos e bielorrussos, para seguirem competindo, têm de assinar um documento condenando a invasão da Ucrânia pelas forças de Vladimir Putin.

FRASES – Para finalizar, as frases mais repetidas do dia que foram ditas por todos os pilotos e integrantes das equipes usando as mesmas palavras: “Os tempos não são representativos porque a gente não sabe o que os outros estão fazendo”; “Nós estamos focados apenas no nosso trabalho e no nosso programa, não estamos preocupados com os outros”; “Foi um dia muito produtivo, aprendemos muito e nestes testes o mais importante é entender como o carro funciona”. A última é dos comentaristas de TV, de todos os países e em todas as línguas: “O que a [equipe X] fez com esse desenho foi otimizar os fluxos de ar”.

Até mais tarde, às 19h no “Fórmula Gomes”, com análise ao vivo do dia #1 no Bahrein.

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FOTOS DO DIA

Desde 1996 fornecendo o safety-car e medical-car para a F-1, agora dividindo a tarefa com a Aston Martin, a Mercedes apresentou os modelos que serão usados neste ano na função. O SC será da linha Mercedes-AMG GT Black Series, com 730 HP de potência e velocidade máxima de 320 km/h. O carro médico será um Mercedes AMG-GT 63 S 4Matic+ (ufa!), com 639 HP e lugar para três médicos e equipamentos de intervenção rápida. Vermelhos.

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É MAGNUSSEN

SÃO PAULO (surpresa!) – Nem Pietro, nem Giovinazzi. Muito menos Hülkenberg, o experiente, ou Piastri, o promissor. A Haas acaba de anunciar a volta de Kevin Magnussen à equipe para o lugar de Nikita Mazepin. O dinamarquês de 29 anos foi o escolhido por Gene Haas para assumir o cockpit vago após o rompimento do time com a Uralkali, patrocinadora russa que pertence ao pai do piloto. Dmitry Mazepin, aliás, acabou de ser colocado numa lista de 14 milionários russos que sofrerão sanções da União Europeia. De acordo com a UE, ele teria se encontrado com Vladimir Puti em 24 de fevereiro, exatamente no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia.

Magnussen defendeu a Haas de 2017 a 2020. No ano passado, migrou para os EUA onde disputou diversas provas da IMSA, chegou a correr na Indy e também se divertiu com carros do WEC. Tinha virado uma espécie de saltimbanco das pistas, mas estava certo com a Peugeot para 2022 no Mundial de Endurance e tinha um contrato com a Chip Ganassi.

Na F-1, o filho de Jan Magnussen — prodígio que não vingou nos anos 90 –, tem no currículo 119 GPs disputados por McLaren (2014), Renault (2016) e Haas. Subiu ao pódio uma vez, em 2014, com um segundo lugar surpreendente na Austrália. O nono lugar no Mundial em 2018 foi sua melhor classificação até agora.

É uma escolha que faz sentido, embora seu nome não estivesse em lista nenhuma dos candidatos à vaga de Mazepin. Tem experiência, conhece a equipe por dentro, não vai ter dificuldade nenhuma de adaptação. Sua saída no final de 2020 não foi traumática. A equipe estava na pindaíba total e o dinheiro injetado pelo clã Mazepin falou mais alto no conflito entre competir e sobreviver. K-Mag, como é chamado, aparentemente compreendeu. Saiu chateado, mas não disparou nenhuma saraivada de impropérios contra a equipe.

Com a decisão anunciada há pouco, encerram-se as discussões sobre a possibilidade de Pietro Fittipaldi se tornar titular da Haas. O brasileiro segue na condição de piloto de testes e está escalado para abrir os treinos do time amanhã no Bahrein.

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PIETRO E O BANCO

SÃO PAULO (aguardando) – Foi só ontem à noite, bem tarde pelo horário local, que o material da Haas chegou ao Bahrein. A equipe informou que talvez perca a primeira parte do primeiro dia de treinos amanhã, mas garantiu que Pietro Fittipaldi estará no carro à tarde. O brasileiro passou boa parte do dia moldando seu banco e se familizarizando com o modelo novo do time.

Um detalhe no macacão de Pietro não passou despercebido: a pequena inscrição do Banco do Brasil bordada na altura do peito. Seu irmão Enzo já havia aparecido com as cores do banco nos testes da F-2 lá mesmo no Bahrein, semana passada. Segundo as informações disponíveis, o BB não pagou nada por isso. Seria uma forma de “seduzir” a instituição — leia-se governo do capiroto — para pingar algum nas carreiras dos Fittipaldi neste ano.

Emerson, o avô de ambos, é um notório bajulador da aberração presidencial. Aqui, por exemplo, há um vídeo constrangedor do bicampeão mundial declamando os slogans da campanha do indigitado no auge da pandemia que já matou mais de 650 mil pessoas no Brasil. Em janeiro do ano passado, Pietro foi almoçar em Brasília com o repugnante, que através da secretaria que cuida de esportes no governo liberou R$ 9,4 milhões em renúncias fiscais para financiar as carreiras dele e de Enzo. Antes disso, no começo de 2020, Emerson já havia tido um encontro com o clã miliciano numa churrascaria de Miami.

Não há nada de errado num banco, ainda que estatal, patrocinar esportistas e modalidades. Em alguns casos é até benéfico para certos esportes esse apoio — como acontecia com os Correios e a natação, por exemplo. O Banco do Brasil, assim como a Petrobras, é uma empresa que concorre no mercado com instituições privadas e pode aplicar suas verbas de publicidade no que achar melhor. Desde que, claro, os critérios para a destinação de verbas sejam técnicos e bem explicados, com transparência.

No caso em questão, sugiro apenas que não sejamos ingênuos.

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FALTAM 3

SÃO PAULO (estranho) – Dezoito dos 21 pilotos que estão no Bahrein para os testes que começam amanhã aparecem na foto. Ausentes: Hamilton, Kubica e Fittipaldi. Motivos? Ainda não sabemos. Pode não ser nada — o cara não estava no autódromo, o outro estava fazendo banco, o terceiro talvez nem tivesse chegado ao país. Pode ser que cada um deles tenha razões. Vamos ver se, nos próximos dias, alguém pergunta.

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FOTO DO DIA

Dos tempos em que equipes americanas estampavam em seus carros a bandeira dos EUA.

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Que panca! (Alexandre Neves mandou, é o teste da FIA para alambrados que serão necessários em circuitos homologados como Grau 1 da FIA.)

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Como se diz hoje em dia, queria morar nessa foto…

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