HARD RACE CAFÉ (5)
SÃO PAULO (delícia!) – Lando Norris foi o grande vencedor do GP de Miami nesta tarde, quebrando a banca nas casas de apostas e seu jejum pessoal de mais de cinco temporadas na F-1. Foram 109 corridas desde 2019 para, finalmente, vencer pela primeira vez, em sua 110ª participação. Um safety-car na metade da prova ajudou bastante o piloto da McLaren, que aproveitou o ensejo para fazer sua troca de pneus e manter a liderança que seria perdida quando parasse, num ritmo normal de prova. O segundo colocado era Max Verstappen, que já tinha feito seu pit stop. Mas com o safety-car na pista, Norris pôde parar e voltar ainda em primeiro. E Max não conseguiu alcançá-lo mais.
A corrida da Flórida parecia caminhar para o desfecho mais esperado, vitória de Verstappen, desde a largada. Quando as luzes vermelhas se apagaram, o holandês partiu bem, como de costume, e desapareceu pelas ruas de Miami.
Atrás dele, Leclerc engasgou, Sainz passou, mas Pérez veio atravessando a pista e o espanhol teve de brecar para não acertá-lo em cheio. Charlinho retomou o segundo lugar e Piastri aproveitou para passar a outra Ferrari e se colocar em terceiro. Norris era o sexto. Hülkenberg passou Hamilton e Russell e foi para sétimo
Muito rapidamente Verstappen abriu mais de 1s sobre Leclerc, que não conseguiu o mesmo sobre Piastri, para se defender da asa móvel. Na quinta volta, o australiano da McLaren passou o monegasco e assumiu o segundo lugar. Era o pior dos cenários para o #16. Agora, seria atacado por Sainz, já demitido pela Ferrari, sem nada a perder. Pérez era o quinto colocado. Mas não houve briga entre os dois carros vermelhos. Carlos abriu mão de eventuais confusões.
No pelotão da merda, Lewis deixou a Hass #27 para trás na volta 7. Quase se tocaram. O inglês, desde 2022, ganhou alguma experiência em andar no meio de pilotos menos, digamos, laureados. Alguns carros ele só conhecia de nome. Jamais encontrava na pista. Ali é onde o filho chora e a mãe não ouve. Tanto que na volta seguinte Nico passou de novo, depois que Hamilton errou uma freada. Só recuperaria a posição na volta 10, com todo cuidado do mundo para não irritar o rival. Mais duas voltas, e Russell passou também. E Hülkenberg, então, parou nos boxes e colocou pneus duros. Foi lá para trás e sumiu.
Verstappen, ao seu estilo, apenas administrava a liderança. Apesar das muitas nuvens no céu, o domingo foi bem quente e o asfalto também fervia – respectivamente 29°C no que chamamos de ambiente e 46°C na pista. Depois de abrir quase 3s sobre Piastri, ouviu pelo rádio: “Tem de manter isso daí”. Estranhou a voz meio soturna, mas não disse nada.
Entre os ponteiros, Pérez foi o primeiro a ir aos boxes, na volta 18. Colocou pneus duros. Estava em quinto, apanhando para se defender de Norris. À frente deles, Leclerc e Sainz. Lando ficou na pista para voltar à frente de Checo quando trocasse seus pneus. Esse era o plano. Àquela altura, jamais sonharia com uma vitória. Charlinho parou na volta 20. Também colocou pneus duros – dos 20 que largaram, 15 estavam com pneus médios; Hamilton, Alonso, Magnussen e Ricciardo largaram com duros e Bottas, com macios.
Com borracha nova, Leclerc voltou em sexto e rapidamente passou Hamilton. Na volta 22, alerta amarelo na Red Bull. Verstappen passou por cima de um “pirulito” que demarca a chicane no trecho mais trecho do circuito. Arrancou o troço da pista e seus destroços ficaram no asfalto.
(Chamei de “pirulito”, embora só o palito do próprio seja representado nessa descrição. Muita gente chama de “cone”. Mas cone é outra coisa. É que nem temaki, não canelone, se é que me entendem.)
Aí, na volta 23, um safety-car virtual foi acionado para que um fiscal pudesse tirar aquele negócio de onde estava. E Verstappen foi para os boxes. Colocou pneus duros e quando voltou o safety-car virtual já estava desativado. Mas não perdeu muito tempo. Piastri assumiu a liderança, com Sainz em segundo e Norris em terceiro. Nenhum dos três tinha feito pit stop, ainda. Verstappen era o quarto.
A corrida era bem movimentada, até, com muita gente andando junto, se desencontrando e depois se reencontrando após as paradas. O desfecho não era muito previsível de Verstappen para trás, em condições normais de temperatura e pressão. Na volta 28, Piastri e Sainz pararam. Como entraram, saíram: McLaren na frente, claro. Quem ganhou a posição do australiano foi Leclerc, que estava atrás dele antes do pit stop. Norris assumiu a liderança, sem troca.
E, então, aconteceu o momento decisivo da corrida: um safety-car muito interessante para Landinho, na 29ª volta. Sargeant se enroscou em Magnussen (o dinamarquês foi considerado culpado, mais uma vez) e o Williams do americano ficou parado na área de escape, batido. Pérez aproveitou que estava passando pela entrada dos boxes e colocou pneus médios. Foi uma boa ideia, a do mexicano. Norris parou na volta 30 e, graças ao carro de segurança, voltou em primeiro. Houve uma certa confusão no posicionamento do safety-car, que entrou na pista na frente de Verstappen, e não do influencer da McLaren. Depois, tudo se ajeitou.
Norris, Verstappen, Leclerc, Piastri, Sainz, Pérez, Tsunoda, Hamilton, Russell e Ocon eram os dez primeiros atrás do Mercedão vermelho à frente do pelotão antes da relargada.
Que aconteceu na volta 33. Lando conseguiu resistir à primeira estocada de Max, que por sua vez teve de olhar de soslaio pelo retrovisor para monitorar Leclerc. Com isso, o piloto da McLaren conseguiu em uma volta abrir quase 1s5 sobre o #1 da Red Bull. A prova ficou ainda melhor. Com todos muito próximos de novo, as asas móveis entraram em campo. Hamilton passou Tsunoda. Piastri e Sainz bateram roda. O espanhol pediu pelo rádio que a Ferrari solicitasse gentilmente à McLaren que orientasse Oscar a lhe entregar a posição, para que não fosse punido. Muito bonita, sua preocupação. Mas os comissários esportivos não se comoveram muito com a gentileza e Piastri se manteve à frente.
Sainz ficou pistola dentro do capacete azul. Enquanto isso, Verstappen tinha problemas com os pneus duros. Norris começou a abrir, e o esperado ataque não acontecia. Pelo contrário. Na volta 28, Lando tinha 2s6 de vantagem. “Está um desastre isso aqui”, resmungou o holandês, com um carro que saía de frente de forma aflitiva. Na volta 40, Carlos passou Oscar, que passou Carlos, que passou Oscar, tudo num espaço de três curvas. E o espanhol assumiu o quarto lugar. O jovem australiano do carro papaia também foi ultrapassado por Pérez e Hamilton. Na disputa com Sainz, ele quebrou um pedaço da asa dianteira e teve de ir para os boxes. Sua corrida estava acabada.
Norris nunca estivera tão perto de uma vitória. Faltando 15 voltas, seu carro rendia bem, ele fazia ótimos tempos e ia deixando Max para trás. A dez voltas do final, ficou claro que o líder do campeonato desistira da contenda. Norris abriu 5s2 e só perderia se quebrasse. Para o tricampeão, chegar ao final, com um carro que desde a sexta-feira não esteve do seu agrado, já era lucro.
As últimas batalhas de Miami aconteceram entre Alonso e Ocon pela nona posição – o espanhol se deu melhor – e Hamilton e Pérez pela quinta colocação – o mexicano se sustentou na frente. Norris venceu com 7s6 sobre Verstappen. Leclerc fechou o pódio. Sainz, Pérez, Hamilton, Tsunoda, Russell, Alonso e Ocon completaram a zona de pontos. A Alpine de Ocon pontuou pela primeira vez no ano. A McLaren não ganhava uma corrida desde Monza/2021, com Ricciardo. Chegou a 184 triunfos na história.
Foi uma festa danada. “Amo vocês, amo vocês! Conseguimos!”, gritou Lando pelo rádio. “Finalmente…”, suspirou. “Você está chorando?”, perguntou o engenheiro. “Eu nunca choro”, respondeu. O primeiro a aplaudi-lo, ainda na pista, foi Verstappen. “Obrigado, pai, obrigado mãe, obrigado vó…”, seguiu Norris falando sozinho no rádio até estacionar o carro junto à placa com o número 1 na reta dos boxes. Ali, ainda de capacete, foi abraçado por Verstappen e Leclerc. De trás da mureta saiu Alonso para fazer o mesmo, e depois Sainz. Então ele correu para o Parque Fechado e se jogou sobre os mecânicos da McLaren, que o ergueram nos braços. Devolvido ao chão, foi abraçado por Zak Brown e Andrea Stella. E quem mais cruzou seu caminho cumprimentou o inglês.
Verstappen não ficou muito abalado com a derrota. Pelo contrário, parecia genuinamente feliz pela vitória do amigo. “No automobilismo, você ganha e perde. É assim que deve ser. Com os pneus médios, a gente estava bem. Mas com os pneus duros o Lando estava voando e ficou difícil. Quando se está num dia ruim e o resultado é um segundo lugar, está bom. Não dá para reclamar. Estou feliz por ele, e não será a última. Lando mereceu. Não foi o melhor fim de semana para a gente, vamos analisar tudo que aconteceu e voltar mais forte.”
A metros dele, Norris distribuía sorrisos e recebia afeto. Na F-1, poucas coisas são mais bacanas do que ver um piloto vencendo pela primeira vez.