ANDREAS NIKOLAUS LAUDA
RIO – Niki Lauda recebeu a extrema-unção em 1976 depois de queimar dentro de uma Ferrari em Nürburgring. Seis semanas depois estava de novo dentro de um carro para lutar pelo Mundial até a última corrida, em Fuji.
Chovia muito. Ele recusou-se a continuar na pista por falta de segurança. Campeão vigente, perdeu o título para James Hunt. No ano seguinte, conquistaria a taça pela segunda vez. Em 1979, de repente, resolveu parar para cuidar de sua companhia aérea. Voltou em 1982 para salvar a empresa e em 1984 conquistaria o tri. Correu mais um ano e parou.
Se eu tivesse apenas algumas poucas linhas para falar sobre Lauda, acho que escreveria isso. Mas teria de deixar de lado tanta coisa, tanta coisa…
Lauda não zombou da morte. Antes, a viu de perto, sentiu seu calor e passou a temê-la por absoluto conhecimento de causa. Voltar a correr não foi um desafio à figura caricata vestida de negro com a foice na mão, clichê que não fazia muito seu tipo. Voltar a correr foi simplesmente retomar a vida de onde ela tinha parado. Negar-se a chance de uma nova glória foi sua maneira de mostrar que a respeitava.
Andreas Nikolaus Lauda tinha um jeito bastante peculiar de enfrentar a vida e seus obstáculos. “A felicidade é uma inimiga, ela te enfraquece porque, de repente, você percebe que tem algo a perder”, disse um dia. Talvez por isso não fosse alguém de riso fácil. Via a felicidade com alguma desconfiança. Defendia a ideia de que nas derrotas se aprendia alguma coisa, não nos triunfos. Achava as vitórias aborrecidas. “Falar sobre elas é chato”, dizia. “Você aprende muito mais com o fracasso do que com o sucesso.”
Tal visão de mundo fez com que ele, trinta anos depois de parar de correr, ainda fosse alguém a ser ouvido por todos na Fórmula 1. Um sábio à disposição daqueles que a ele recorriam. Não é exagero repartir com Lauda o sucesso que a Mercedes alcançou nos últimos tempos. Era o homem dos conselhos incômodos e das decisões difíceis. Um oráculo, não uma esfinge.
A maior tragédia da vida de Niki Lauda não foi seu acidente em Nürburgring, mas a queda do voo 004 da Lauda Air na Tailândia, em maio de 1991. As 223 pessoas a bordo morreram. Ele nunca se recuperou da catástrofe, mas fez questão de apurar por conta própria as causas do desastre, revirando os destroços para concluir que o reverso de uma das turbinas se abriu em pleno voo. Um ano depois, as investigações oficiais constataram que ele estava certo.
Aviões, mais do que corridas, eram sua grande paixão. Muitos achavam que, no auge de sua carreira, se aventurar na aviação comercial era um risco desnecessário para alguém que já tinha escapado da morte e poderia desfrutar de uma aposentadoria tranquila e confortável. Mas Lauda também tinha uma noção bem particular daquilo que considerava essencial para viver. Para descrevê-la, usava o próprio esporte como metáfora: “Muitos criticam a Fórmula 1 e dizem que correr de carro é um risco desnecessário. Mas o que seria da vida se fizéssemos apenas o necessário?”, perguntava.
Lauda foi necessário aos que com ele conviveram até o último de seus dias. Foi uma bela maneira de viver.
Mais um dos grandes que merece o nosso apreço e respeito.
Sinceros aplausos ao FG, mais um senhor texto, e aplausos, póstumos, dessa vez, a Lauda.
OK, sou suspeito: tive a fortuna de ter um autorama e “guiar” a 312T c o nome dele na carenagem :)
Em tempo: não q eu não gostasse do FD-02 (01?), meu irmão mais velho se apossou dele…
P.S.: FG, me desbloqueia no tuínto, prometo não mandar mais sugestões de pauta…
Cara, que texto especial, delicado, irretocável mesmo. Não curto muito adjetivar e ficar elogiando, mas nesse caso… Tinha certa bronca do Lauda pelo campeonato de 75, claro, eu queria o Emerson. Por isso torci para Hunt no ano seguinte. Mas me rendi depois e em 84 comemorei muito aquela vitória por apenas meio ponto. No filme “Rush – No limite da Emoção” os mais novos podem ter uma bela ideia de quem era esse homem extraordinário que recebe tantas homenagens. Incluindo esse belo texto.
Fazia tempo que eu não vinha aqui. Encontrei um belo texto parabéns. Mas, me confirma uma duvida. Quando você escreveu que “Em 1979, de repente, resolveu parar para cuidar de sua companhia aérea. Voltou em 1982 para salvar a empresa e em 1984 conquistaria o tri.” A empresa foi salva pela ingestão de capital vindo do salário de piloto?
Sim.
Pra responder a pergunta de lauda, fênix em pessoa, ( o que seria da vida se nós fizéssemos só o necessario) a resposta vem de Fernando pessoa : a gente seria só um cadáver que procria.
Eu estava esperançoso que ele voltasse no comando da Mercedes esse ano, mas era tudo ilusão, uma pena essa triste notícia de sua morte.
Nós agora vamos ter que nos acostumar a não ver mais essa grande figura andando pelos circuitos do Mundo no comando da Mercedes ao lado do Toto Wolff que faziam uma dupla em perfeita sintonia.
Agora James Hunt e Niki Lauda vão colocar o papo em dia lá do outro lado num encontro além da nossa imaginação.
Vai Com Deus, Niki Lauda! Você realmente foi o único piloto da história da F-1 que voltou das cinzas sem ninguém duvidar disso.
Valeu a pena Niki, você mostrou o caminho.
O cara era diferente mesmo, vai fazer muita falta. Força aos amigos e família.
Belo texto.
O Lauda remete ao Caique Pereira. Por onde anda?
Ele era conhecido também como a Fênix da Fórmula-1.
Sobreviveu a regência Marciana de 1976 pra morrer na regência Marciana de 2019. E morreu cedo como a maioria dos Pisicianos morrem.
Seria piegas mas ao mesmo tempo lindo ver algum piloto da Mercedes ou Ferrari usando um capacete nas mesmas cores que ele usava, na proxima corrida
Belo texto, Flavio. Bela homenagem.
Texto excepcional.
Lá se vai mais um guerreiro das pistas.
Não sei se estou ficando chato porque estou ficando velho ou se o mundo está chato no mesmo momento em que eu envelheço.
A F1 não tem graça sem personagens como o Lauda. Como muita gente as minhas lembranças de uma F1 legal são da época dele e anterior tambem. Infelizmente entram tragédias nessas lembranças. Mas a F1 dessa época era disputa pra valer, não o autorama que parece ser hoje em dia. Para ser disputa precisava de pilotos competitivos e muito objetivos. A história do Lauda fala por si. Vai fazer falta. A categoria mudou tanto que acho que nunca mais vai haver espaço para pessoas como ele.
Enfim, é a vida. Cabe aceitar a realidade.
Confesso que não vi até hoje o filme rush mas um dia sem querer vi o documentário sobre a temporada de 76. E minha namorada que não é ligada em automobilismo viu até o fim e se emocionou com o que lauda disse sobre Hunt no final do documentário. Se não fosse o acidente Lauda seria tricampeão em sequência numa época em que era raro ser campeão em sequência pois a competitividade tornava inimaginável que uma equipe dominasse por 5 anos seguidos como a gente vê com o Mercedes e vimos recentemente com a red bull. Só pra comparar : entre 70 a 79 houve campeões guiando Ferrari (3) Lotus(3) tyrrel (2) McLaren (2) e . Entre 2010 e 2019 so red bull e mercedes.
De 1990 a 2000 Vimos McLaren, Williams, Benetton e Ferrari com 7 pilotos diferentes.
De 2001 a 2010 vim0s Ferrari, Renault, McLaren, Brown e Red Bull com 6 pilotos diferentes.
De 2011 a 2018 vimos REd Bull e Mercedes com 3 pilotos diferentes.
Não vejo muita diferença.
Mais um, que nos deixa, da melhor geração que o automobilismo viveu. Só o fato dele aparecer nas transmissões já me passava algo de bom e ao mesmo tempo surreal, quando exclamava era melhor ainda, trazendo à tona toda verdade dessa geração nutella que aí está. Uma lenda, um mito, e pra mim está no Top 5 junto com Prost, Senna, Clark e Alonso.
Espero que receba todas as homenagens que lhe fazem jus.
Em 1987, eu era cinegrafista e trabalhava na afiliada de uma grande emissora de Tv, em Curitiba. Na época eu participei da cobertura de um caso que teve bastante repercussão, no Brasil e no mundo. Enciumado e inconformado com o fim do relacionamento, um rapaz ateou fogo na ex-companheira, que teve boa parte do rosto, tórax e membros inferiores queimada. Os ferimentos foram tão graves que ela precisava usar uma roupa especial, caríssima, importada da Europa. A vestimenta servia para que a pele se mantivesse firme junto ao copro, além de evitar infecções por agentes externos e aliviar a dor. Quem custeou o tratamento da jovem e a compra do material foi o grande Nikki Lauda.
Belo registro.
Lembro ainda que o malfeitor respondia em liberdade. É a “nossa” justiça mãezona e suas brandas leis.
Niki Lauda foi um dos maiores, Estará sempre no Olimpo do automobilismo.
A Lenda. Belo texto FG.
Um texto à altura da grandeza de Niki Lauda.
Admiro os lutadores e os resilientes, aqueles que vão em frente enquanto há uma mínima chance de não ficar parado. Como fez Nika Lauda e como está fazendo o eterno presidente Lula, que na cadeia reaprende a amar para desespero de seus perseguidores.
Nossa que comparação ridícula! Ao menos respeita o Morto, o Grande Nikki Lauda!
Nossa, que comentário ridículo! Ao menos respeite a opinião do outro sobre o muito maior Lula!
Uma das melhores situações que presenciei na F1 foi o beijo de Piquet em Lauda.
Prova de que Piquet realmente era boa gente.
Que pena, ele deixa um vazio na F1, que DEUS abençoe ele e a sua família.
Um vazio no coração do torcedor e um legado no história do automobilismo.
O episódio da Lauda Air foi reconstituido na série MayDay. Muito bom. Texto de FG impecável. https://www.dailymotion.com/video/x54xqx9
Flavio, tem personagens que precisam ser resgatados para que a ou uma historia seja preservada. E existem tantos que contaram uma historia no Brasil e no mundo. Emerson, Wilsinho, Ingo, Nelson Piquet, Mansell, Mario Andretti, Ronie Peterson, Colin Chapman, Frank Willians, Jordan, etc. Voce deve ter pequenas ou grandes historias para contar. Seria muito legal saber algo mais desses obstinados que devem ser reverenciados. Abs.
Morre o Homem, Fica o Mito.
FG,
” Um oráculo.”
PERFEITO!!!
#rip_lauda
https://www.youtube.com/watch?v=YWhRHUfanLw&nohtml5=1
emocionante video do fg, olhos marejados aqui tbem
lauda e o acidente da tailândia:
https://www.youtube.com/watch?v=E42NN1rU93o
“Não é exagero repartir com Lauda o sucesso que a Mercedes alcançou nos últimos tempos.”
Com Lauda, com Shummi e principalmente com Rosberg que tirou Hamilton da zona de conforto .
Lauda deve
ao Rega que o levou pela mão para a Ferrari , onde pela primeira vez viu a cor do dinheiro!
Niki RIP!
Esse era um cara foda.
Você escreve p caralho!! Parabéns.
Linda homenagem.
Estava fazendo falta no paddock. Agora vai fazer mais ainda.
O Grid no Céu ficou mais forte! Complicou para muita gente!
Descanse em Paz!
Em 91, lembro bem, havia dois donos, apenas, de empresas aéreas no mundo.. Um era um tal de Omar Atílio Fontana… Ele era o outro.
Uma lenda! Deixará muita saudade.
Eu me emocionei com o seu texto, Flavinho. Foi-se um gigante.
Top 5 na minha F1…
Uma perda muito grande. Morreu jovem, com muito ainda por fazer, e com uma história de vida singular.
Foi-se um dos maiores pilotos que vi competir. Piloto de um tempo onde correr era arriscado e o homem atrás do volante fazia muita diferença. Todos nós sabemos que este dia sempre chega, mas como sempre, quem vai fará falta. Espero que haja pistas no paraíso.
Um Senhor das pistas. Ao partir, torna-se efetivamente uma lenda. Sem clichê, ao se referir ao Niki, deve-se como justa homenagem, usar sempre o aposto “O Lendário”.
Belo texto ! James hunt e niki lauda protoganizaram era romântica da f1