SAUDOSAS MALACAS (3)

SÃO PAULO (é o que nos resta) – Desculpem a demora, tivemos um problema hoje com nossos tradutores juramentados, cada um num lugar do planeta, fusos diferentes, vocês entendem. Depois, tive de selecionar o material, editar tudo direitinho, tirar alguns palavrões.

Mas devo reconhecer que considerei esquisitas algumas dessas traduções, confusas, sem pé nem cabeça. Neste mundo da F-1, no entanto, é assim mesmo. Os caras falam, falam e não dizem nada. E eis a “Tecla SAP” pós-classificação da Malásia, a verdade verdadeira da Fórmula 1 como você nunca viu (sorte sua, diga-se). Começando com declarações dos pilotos da McLaren apresentando o novo patrocinador da equipe, o delicioso Lucozade.

Parece que é de beber.

BUTTON, O HIDRATADO – “Hydration in the cockpit is extremely important – and I know that only too well from a past experience during the Malaysian GP when my fluid bottle broke. By the end of the race, I was in pretty bad shape – which just goes to show that, without proper hydration, your performance and your abilities behind the wheel are severely compromised.” SAP – “Teve um ano aqui que meu pai colocou um scotch com gelo na garrafinha, mas a bagaça quebrou. Cheguei ao fim da corrida meio bêbado. Agora me deram esse negócio para beber. Tem gosto de xixi. Quente.”

HAMILTON, O SINTÉTICO – “It’s fantastic that we’ve been able to work on this project with Lucozade’s scientists. During a race, you can lose up to four kilos in fluid – something that can really affect your performance. One of the benefits of working so closely with our human team is that Lucozade has really tailored the taste of the drinks to our preferences.” SAP – “Se esses caras fossem cientistas bons, teriam inventado a Coca-Cola. Vamos fazer o seguinte: troco essa merda por um Red Bull. Ops.”

RAIKKONEN, O BREVE – “Unfortunately, I made a couple of mistakes on my fastest lap which probably cost a couple of tenths. Without that, we were in with a shout for pole today. It’s a shame we have a penalty. We had some issues with KERS yesterday, but there was no repeat today.” SAP – “Fiz um copo de erros na minha volta que me custou um copo de tetas. Me deram um chute na pole e marcaram pênalti. Me mandaram usar um tal de KERS ontem, mas como não sabia o que era, não usei hoje.”

GROSJEAN, O PACIFISTA – “You never know what will happen with the weather here, our pace is not too far off the leaders and it will be a long race, so anything is possible. In these conditions managing the tyres is crucial. I’m looking forward to the race.” SAP – “A gente nunca sabe o que pode acontecer, saca? A paz não está longe dos líderes, bicho. É uma cruz, meu camarada. Uma cruz. Estou olhando para o horizonte da raça, entende o que eu digo?”

MARK GILLAN, DA WILLIAMS, O COMUNA – “We had a good practice session this morning but unfortunately we failed to capitalise on our pace in qualifying. Pastor’s car sustained some body work damage. We aim to be fighting for points.” SAP – “A prática matinal do trabalho duro que visa apenas a fortuna mostra as falhas do capitalismo em tempos de paz. Pastor sustenta a família e sempre diz que a mais valia danifica o corpo do trabalhador. Temos de lutar por esses pontos [na próxima reunião do partido].”

DI RESTA, UM – “I think P14 is a reasonable place to start and hopefully our race pace and tyre management will pay off tomorrow. The other variable is the weather because there is always a high risk of showers late in the afternoon.” SAP – “Espero que o gerente da loja de pneus nos pague o que deve amanhã, caso contrário há um enorme risco de eu só tomar banho de tarde.”

SCHUMACHER, O IDOSO – “I am more than happy about my return to the top three today. It felt nice being in the qualifying press conference for the first time in over five years! What is obviously more important would be sitting here again tomorrow. I would also be happy to give a good result back to Mercedes-Benz who have been so strongly supportive of me.” SAP – “Até que enfim posso sentar um pouquinho e descansar depois de um treino, porque estou ficando meio velho pra isso aqui. Do jeito que andava a coisa, já estava achando que a Mercedes ia enfiar um supositório com força em mim.”

KOBAYASHI, O RECUPERADO – “There was no particular problem on my final lap in Q2 such as traffic or mistakes, but I could not feel the grip with the medium tyre compound.” SAP – “Não tenho nenhum problema particular, acordei melhor e no final já não estava sentindo os efeitos da gripe, que foi média.”

DOMENICALI, O MORIBUNDO – “We should regard this result as a glass half full. All of us and our fans would like to see our drivers always in the fight for pole position, but if we do not have the potential to do so. Once again today, Fernando did a great job. Felipe has made a step in the right direction and that could also be seen on the clock.” SAP – “Vou usar aquele negócio do copo meio cheio e meio vazio que o Alonso falou no Twitter, pra ver se cola. Ah, Fernandinho, salvas o nosso couro, chico! Lindo, lindo, guapo! Felipe melhorou, conseguiu colocar o estepe no lugar certo mesmo olhando a hora no relógio.”

ALONSO, O CONFORMADO – “If it was to rain, it will take a lot of luck to pinpoint the right moment to change tyres: it only takes a little to drop a dozen seconds or so and we will need total concentration to get everything right. A dry race will require just as much concentration to maximise the performance of the car and tyres which, at this track, degrade a lot.” SAP – “Se chover forte, estamos fodidos. Se chover pouco, estamos fodidos. Se ficar seco, estamos fodidos.”

MASSA, O ESCLARECIDO – “I think we have begun to get a better understanding of how this F2012 works and that is positive. Tomorrow will be a very hard race, where tyre degradation will make itself felt and there will also be the threat of rain hanging over it.” SAP – “Eu não estava entendendo nada do carro. Agora que estou, acho que se chover, estamos fodidos. Se ficar seco, estamos fodidos.”

FRY, O FRITO – “Honestly it’s hard to see how we could have secured a different result to this one, given the potential available to us.” SAP – “Honestamente, como é que eu vou explicar pra minha mulher que saí da McLaren pra vir parar aqui?”

Comentar

ANOTHER COMMENT

É, atualmente, o carro de Turismo mais lindo do mundo. Sem contar todos os Lada, claro.

Comentar

ONE COMMENT

O Ricardo Divila anda entusiasmado demais com esse carro… Será o futuro do automobilismo? Vejam nosso guru no vídeo, empolgado como se fosse um guri. Guru guri.

Comentar

P13

SÃO PAULO (contagotas) – Will Power fez a pole em São Petersburgo, que fica na Flórida, e não na Rússia (o Globoesporte.com mandou a corrida para a Pátria Mãe, mas já devem ter corrigido). Barrichello larga em 13°. Nos cinco primeiros lugares, motores Chevrolet. A Penske fez dobradinha na primeira fila com o australiano e com Bryan Riscoe. Ou Ryan Briscoe, um dos dois. A Ganassi fez sexto, nono e décimo, apenas. Tony ficou em oitavo.

Os detalhes estão aqui, para vocês comentarem.

Comentar

SAUDOSAS MALACAS (2)

SÃO PAULO (não desistir) – Não viu nada na madrugada? Problema nenhum, veja aqui.

Hamilton fez a pole na Malásia, antes que me esqueça. 21ª na carreira, segunda no ano, com Button em segundo, repetindo a primeira fila da Austrália. Mas já voltamos aos melhores. É mais gostoso falar dos piores.

Calor forte, daqueles de fazer jacaré andar de pé pra não queimar a barriga. Normal, em Sepang, essa sucursal do inferno dos diabos. Mas sem chuva, desta vez. A diversão do Q1, neste ano, é saber se a Ferrari passa. Não dá para dizer que bateu na trave, mas por alguns minutos Massa viveu perigosamente, até fazer o 15° tempo. As nanicas, em duplas, cumpriram seu papel, pela ordem: Kovalento (que perderá cinco posições por ter feito algo errado em Melbourne), Petrowski, Glock, o da pistola, Pixel, Rosinha e Carticã, como diz o Galvão. Incrível, a HRT. Achei que não ia conseguir se classificar. A eles juntou-se Verme, em 18°. Lá na frente, Webber em primeiro. Alonso foi o 11°.

No Q2, a Williams foi a decepção. Maldanado tinha andado bem no último treino livre, a equipe já sonha alto, mas ele cometeu um erro bobo, saiu da pista, não deu tempo de limpar a sujeira toda e o bolivariano acabou em 11°. Senninha foi o 13° e também ficou fora do Q3. A Mercedes deu um sustinho, mas passou com os dois, assim como as outras grandes, ou quase isso, Lotus, McLaren e Red Bull — discretíssima, esta. Alonso superou a ruindade do carro e foi o oitavo. Massa sucumbiu e ficou só em 12°. O intruso foi Pérez. Koba-mito não mitou, apenas 17°.

E no Q3 a força da McLaren se confirmou, com Schumacher em terceiro, sua melhor posição de largada desde a volta, em 2010, e o glorioso Canguru voltando a andar na frente de Tião Alemão, que perdeu o sorriso e anda emburrado. Raikkonen, o Breve, que tinha sido o mais rápido do Q2, colocou seu carro-esquife em quinto, mas como trocou o câmbio larga em décimo. Do primeiro ao oitavo, Rosberguinho, a diferença foi de apenas 0s445. Os dois últimos, Fernandinho e Serginho, ficaram a 1s347 e 1s479 do tempo da pole. Outra liga. Série B.

Para a corrida, o favoritismo da McLaren é claro. Hamilton fará de tudo para não perder a ponta na largada, porque na Austrália já percebeu que isso pode ser fatal diante de um piloto tão elegante na tocada quanto Bonittão. Vettel guardou um jogo de pneus médios e pode aprontar alguma coisa. Mas, sinceramente, a Red Bull de 2012 não parece muito, digamos, energizada.

A pauleira no meio do pelotão é que vai ser divertida. A batalha de Schumacher por um pódio também promete, mas em ritmo de corrida a Mercedes não é lá muito brilhante, desde o ano passado.

À TV Globo, Massa disse que “algo de positivo aconteceu”, apesar da posição de largada pouco emocionante. “Teve uma melhora e a gente está no caminho certo”, falou. No Twitter, a Ferrari se conformou: “Com o carro que temos no momento, não dava para fazer muito mais”. No momento? Como assim? Vão comprar outro?

Senninha, também ao global Carlos Gil, admitiu que não acertou a melhor volta. “Estou sofrendo um pouco na classificação”, disse. “Mas foi um pouco melhor do que na Austrália.”

Acho que a McLaren leva amanhã sem muitas dificuldades. E acho também que Maldonado, Grosjean e Raikkonen podem animar a madrugada, já que estão colocando o pescocinho para fora do engradado, animados com o surpreendente embaciamento rubrotaurino.

E é isso. Mais tarde tem Tecla SAP.

Comentar

ONE COMMENT

De trás, é feio. Bem feio.

Comentar

SOBREVIVEMOS

SÃO PAULO (que bom) – A impressora que imprime na medida em que você vai digitando, conhecida também como máquina de escrever, pode ser comprada ainda, e pela internet, vejam só. Deu no Blue Bus. A Hammacher Schlemmer, que deve ser uma das mais antigas firmas de venda de qualquer coisa por catálogo, fundada em 1848, tem entre seus produtos esta máquina aqui, zerinho, por 119,95 dinheiros americanos.

Vira e mexe pinga uma notícia aqui e ali sobre o fim definitivo das máquinas de escrever. Eu mesmo já publiquei algumas. Mas que nada. Elas sobrevivem. Ainda bem.

Comentar
Comentar

INDY, DIA #1

SÃO PAULO (e daí?) – Terminou o primeiro dia oficial de Barrichello na Indy. Nos treinos livres de hoje em São Petersburgo, ele ficou em 23° entre os 26 que treinaram. Mas antes que comecem a dizer bobagens, Rubens teve problemas de câmbio e deu pouquíssimas voltas, apenas oito no primeiro treino e 20 e poucas no segundo, numa pista que lhe é desconhecida. O resultado, pois, é irrelevante. Tony em 8° e Viso em 20° é que dão uma ideia de como a KV é um time apenas médio, que vai viver de espasmos ao longo do ano. Por isso ninguém deve esperar milagres. Mesmo num campeonato de carros parecidos, sempre tem aqueles que andam mais à frente.

Rubens e a equipe têm de se preocupar muito mais em encontrar os gremlins que atrapalharam seu dia do que com a folha de tempos, enfim. Essa, sim, diz alguma coisa. Do primeiro ao 20°, menos de um segundo, mas isso não é propriamente um fator de equilíbrio. A pista é curta, menos de 3 km, e é normal que os tempos fiquem próximos. O que a cronometragem mostra com clareza é que nos seis primeiros lugares aparecem três carros da Penske e três da Ganassi. Power, o da foto, comandou a dobradinha da Penske, com Franchitti, Rahal e Dixo, o trio ganássico, logo atrás, e Helinho em sexto. O duelo entre as duas grandes equipes da categoria será a marca do campeonato, e o legal é que são seis pilotos, todos mais ou menos do mesmo nível. E também interessante será a briga entre Chevrolet e Honda entre os motores, já que o Lotus é claramente inferior.

Amanhã sai o grid. Em pista de rua é importante largar na frente, seja em uma prova de monopostos, seja com patinetes. Mas na Indy, como se sabe, acontece tanta coisa numa corrida que largar mais atrás também não chega a ser uma tragédia. Seguimos acompanhando este primeiro capítulo da aventura americana de Barrichello.

Comentar

:-(

SÃO PAULO – Para quê palavras, não é mesmo? Vamos rir.

Ou chorar, chorar de rir.

Chico começou a fazer rir em 1947. A Segunda Guerra tinha terminado dois anos antes. É portanto, parte da vida de todos que estamos vivos. Todos. Mesmo os mais novos, que hoje dão risadas menos nobres e sutis com um humor que não é nem uma coisa, nem outra. Que é fácil, e por isso pobre e bobo, desnecessário e irrelevante.

Seus mais de 200 personagens moldaram a personalidade do Brasil, mais, até, do que reproduzi-la. Quando não nos víamos imediatamente em Chico City ou na Escolinha, descobríamos em pouco tempo que éramos nós, sim, ali. Num país que tem muitas caras, ele foi o único que conseguiu interpretar todas. Todos os macunaímas que somos.

Chico fumou, bebeu, cheirou, trepou, brigou, gritou, agonizou, voltou, criou. Criou o tempo todo com uma genialidade incomum. O Brasil, que todos achamos espetacular e genial, não produziu grandes gênios universais, não. Um ou outro, e Chico está nessa meia-dúzia. “Não posso consertar nada, mas tenho obrigação de denunciar tudo.” Fez isso a vida inteira, da maneira que mais irrita os medíocres: rindo deles.

Chico não foi herói, nem anti-herói. Nunca quis ser exemplo de nada, nunca veio a público com discursos panfletários para defender isso, ou aquilo. Passou a vida cuidando da felicidade dos outros, e pode haver uma existência mais essencial do que essa?

Quando olhamos para todos os Chicos que Chico foi, sentimo-nos todos Chicos. Todos fomos ou somos Salomé, Bozó, Bento Carneiro, Pantaleão, Alberto Roberto, Coalhada, Washington, Urubulino, Véio Zuza, Roberval Taylor, Professor Raimundo, Nazareno, Justo Veríssimo, Nicanor, Linguinha, Painho, e fomos também seus alunos na Escolinha, todos eles, todos somos um pouco de Chico, mas só ele foi capaz de ser todos nós.

Somos todos filhos de Francisco, e por isso estamos tristes hoje.

Comentar
1:20:47

FERRARI MUDA TUDO (BEM, MERDINHAS #161)

A Ferrari aposta alto na nova versão da SF-24 para bater a Red Bull com o início das corridas na Europa. Domingo tem o GP da Emilia-Romagna em Ímola. PARA ASSINAR “GIRA MONDO”, A NEWSLETTER DO...

52:36

UM RESPIRO PARA A F-1 (BEM, MERDINHAS #160)

A vitória de Lando Norris foi um respiro para a F-1, que vive seu terceiro ano de absoluto domínio da Red Bull. Todo mundo ficou feliz com o resultado. Inclusive Max Verstappen. PARA ASSINAR “G...