DICA DO DIA

mujicacalle2

SÃO PAULO (longa vida) – É bom quando surge algum sinal de que o jornalismo, nestes tempos digitais, está encontrando caminhos. “Calle 2” é uma revista eletrônica com narrativas da América Latina, que acaba de entrar no ar. De cara, uma entrevista excepcional com Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. Cada resposta é uma aula. Essencial.

O tratamento gráfico das páginas é muito elegante, as fotos são lindas, os textos, exemplares. Aqui, os criadores Ana Magalhães, Guilherme Soares Dias e Julio Simões falam do projeto, que nasceu da paixão pelo ofício e, sobretudo, da necessidade de conhecermos melhor nossos vizinhos.

E por que “Calle 2”? A resposta está na apresentação do site, que reproduzo:

A Calle2 não é uma rua qualquer. É o ponto mais ao norte da América Latina. Fica no povoado de Los Algodones, na fronteira do México com os Estados Unidos, a 241 km de Tijuana.
É uma rua árida e empoeirada, mas simpática. Em quatro quarteirões, a calle 2 tem placas – todas em inglês – de 25 dentistas e nove óticas, que atraem gringos para consultas baratas. Tem um carrinho de cachorro quente, terrenos baldios usados como estacionamento e um moço de chapéu de palha. Tem caminhonetes antigas, uma agência do HSBC, uma padaria e três farmácias. Tem um mercadinho que vende tapetes coloridos, casinhas caindo aos pedaços e três senhoras entediadas sentadas na calçada.
Não visitei a calle 2 (só a vi virtualmente até onde os furgões do Google conseguiram fotografar), mas tenho a impressão de que naquele vilarejo de cinco mil habitantes as pessoas caminham num outro ritmo. O ritmo do deserto.
A calle 2 termina em um posto fronteiriço. Do lado de lá, vira a Algodones Road, ganha uma faixa amarela no meio do asfalto e percorre vários quilômetros no vazio do deserto até chegar à cidade de Phoenix, nos Estados Unidos.

É muito simbólico. É na calle 2 que começa (ou termina) a América Latina. Ela pode ser uma síntese do que somos, ou do que não queremos mais ser. “Calle 2” vai discutir todos os temas relevantes do nosso continente com a profundidade que eles exigem.

O jornalismo respira.

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Mello
Mello
8 anos atrás

Ou seja, essa Calle 2 é onde começa/termina o mundo. Parece ser um belo ponto de chegada/largada para uma jornada a partir de/até Ushuaia. — Quem sabe um dia…

Guilherme Jales
8 anos atrás

Ótima recomendação.

O jornalismo respira, mais do que muita gente imagina. Nas últimas semanas, encontrei duas iniciativas bastante interessantes. Uma, o Risca Faca. Recomendo essa série sobre o maior golpe da história da Bovespa e essa matéria, sobre a mística dos trenzinhos infantis de Ribeirão Preto.

Outra é o BRIO, também um coletivo de jornalistas. Essa matéria, – é a primeira de uma série sobre a exploração de garotas no meio do nada, em meio a maior obra operada pela Vale do Rio Doce no mundo.

Dizem que o jornalismo está morrendo. Se está, pelo menos não está morrendo sem lutar bravamente.

Ewerton Luiz
Ewerton Luiz
8 anos atrás

Baita dica!

joão ernesto
joão ernesto
8 anos atrás

Absolutamente fantástico!

Pepe Mujica… não encontro um adjetivo à altura.

Carlos Tavares
8 anos atrás

Sensacional. E Mujica é gênio.

Pedro Moral
Pedro Moral
8 anos atrás

Belíssima dica … ótima entrevista … realmente, o jornalismo respira.
Esta é uma das razões pelas quais continuo acompanhando este Blog, cujo Escriba tem, sistematicamente, censurado comentários quando contrários aos seus “pensamentos”.

Mujica: ” Há coisas que não se pode proibir … De que adianta proibir o que você não consegue proibir?”

Pedro Moral
Pedro Moral
Reply to  Flavio Gomes
8 anos atrás

Nunca deixei de sê-lo …
Seja vc democrático apenas.

Pedro Moral
Pedro Moral
Reply to  Flavio Gomes
8 anos atrás

Em linha com “educado e respeitoso”?

Anselmo Coyote
Anselmo Coyote
8 anos atrás

http://calle2.com/o-que-fizemos-foi-legalizar-a-realidade/

Isso é o que juízes e funcionários encontram quando clicam na entrevista.

Abs.

Luis Vieira
Luis Vieira
8 anos atrás

Como eu queria poder votar nesse cara! Ótimo link, ótima revista, tomos respiramos melhor agora! Obrigado.

Flávio Herrero
Flávio Herrero
8 anos atrás

Grande dica – precisamos cada vez mais de meios de comunicações que sejam um contraponto aos que nós temos aqui no Brasil – nesse sentido falta um grande portal de notícias, no país todos são absolutamente iguais. Ah, se tiver tempo, visite o RT en Espanol, site essencial para entender melhor o que se passa em meio a “guerra” ao terror.

Alexandre
8 anos atrás

Mais Mujica (basicamente uma versão condensada do que falou na entrevista):
https://www.youtube.com/watch?v=FpfsXQKG8vY
O filme em si (onde Mujica é só mais um dentre os vários entrevistados) é sensacional. Todos deveriam assistir COM URGÊNCIA.

jair yoshimura
jair yoshimura
8 anos atrás

Flávio, se não me falha a memória, lhe conheço desde um mil novecentos e noventa e oito, programa limite, as vinte horas de todas a quartas ou seria as vinte uma, esse meu fuso diferente sempre me traz certa confusão, acho que no Brasil poucos cidadãos conhecem como é a realidade do brasileiro no continente latino, todos os povos se tratam como irmãos. Mas não nos tratam como igual, pois nós abramos outro idioma, achamos que temos uma economia de primeiro mundo, enfim, nos mesmo tentamos ser diferentes. Assim para nossos Hermanos somos o EI dos franceses, não a camaradagem entre eles é nos, Sri bem como é, todo dia um após outro, vivo essa realidade. Os ponteiros estão perto das sete da manhã, entro no meu Voyage, não, não é um destemido Voyage numeral 69 como o vosso, é apenas um Voyage, faz apenas quatro minutos que sai da segurança do meu lar, no meu Brasil varonil, atravesso uma rua, uma simples rua ou seria melhor abrar Valle, pois já estou no país vizinho, no país Hermano, aquele em que os mamonad assassinas compravam calça fiorucci, aliás faz tempo que não às vejo, nem nos casileiros será que ainda existem? Mais três minutos se passam, E já estou no trabalho, olho em volta, a várias fachadas, tento encontrar algo escrito na língua de Pedro Alves, mas só encontro palavras no idioma de Colombo, de Fangio, de Maldonado, de Dom Alonso, enfim essa é América latino, e aqui nos brasileiros não somos Hermanos, sem essa que brasileiro é querido, Amado e estimado pelo resto dos povos do planeta, aqui após cruzar aquela rua à cinco minutos da minha casa, nos somos os invasores. Nossos Hermanos oferecem um sorriso, só que nesse sorriso se esconde um desejo, você deveria ter ficado do outro lado da rua, onde quando você lê escrito Oficina em uma placa, você sabe que vai encontrar um sujeito debruçado em um automóvel e não um cidadão de terno e gravata, pois aqui no país Hermano se meu querido Voyage precisar de cuidados vou ter que procurar um tal ler e não uma Oficina. Abraços Flávio…

Marcos
Marcos
8 anos atrás

Muito agradecido pela indicação ! Excelente a entrevista com o Mujica.

Motos Antigas
Motos Antigas
8 anos atrás

A América do Sul precisa de gente firme como Mujica, temos Lula, espero que os golpistas não prosperem e que o PT consiga se restaurar como partido popular.

Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
8 anos atrás

Podia entrevistar o Delcidio Amoral.

Rafa
Rafa
Reply to  Ricardo Bigliazzi
8 anos atrás

ou sua tia Maria (eu sei que voce tem pelo menos uma)

Lucas S.A.
Lucas S.A.
8 anos atrás

Na verdade, a América Latina deveria acabar no Canadá Francês, não?

Cesar Augusto
Cesar Augusto
Reply to  Flavio Gomes
8 anos atrás

Porquê não?
Sem ser sarcástico ou irônico. Apenas gostaria de saber a razão…

Lucas S.A.
Lucas S.A.
Reply to  Flavio Gomes
8 anos atrás

À parte a “polêmica”, esse Mujica é foda, hein? Vai ser lúcido assim na puta que o pariu…

Fernando Kesnault
Fernando Kesnault
Reply to  Flavio Gomes
8 anos atrás

Seria porque os EUA tomaram “a força” os territorios do oeste que eram e pertenciam ao Mexico??? Com certeza…sua fronteria daria quase que no Canada…Nevada, Arizona, Calfornia, Utah, Novo Mexico (ironia…), Idaho, Wyoming, Montana, Oregon, e Colorado (ufa, roubaram demais….) e reivindicar o Texas que era mexicano tambem…..

Lucas
Lucas
Reply to  Flavio Gomes
8 anos atrás

Porque existe identidade cultural e histórica entre os países da América do Sul e Central, havendo pouca relação de proximidade desses países com as regiões francófonas do Canadá. É fácil de compreender isso se se leva em conta que o termo “América Latina” tem importância política, ou seja, não é simplesmente uma expressão usada para identificar lugares do continente americano em que se falam línguas romance (como o francês, o português e o espanhol) ou que simplesmente foram colonizados por “povos latinos”. Se fosse este o caso, falaríamos também de uma América Germânica (o inglês é uma língua germânica) ou Britânica.